23/01/2012

FERNANDA CACHÃO



Problema de decoração

Ficámos todos a saber que José Magalhães nos gastou mais de 62 mil euros em colunas, espelhos, sofás, carpetes, tralhas e obras diversas, na renovação do seu gabinete na secretaria de Estado da Justiça.

Na sua página do Facebook, o ex-secretário de Estado do Governo de José Sócrates justifica-se: "O custo foi minúsculo e para os incrédulos sugiro que comparem despesas de remodelação dos gabinetes dos dois secretários de Estado." Magalhães faz lembrar aqueles putos lorpas que, quando apanhados em falta, acusam o lorpa do lado.

Do gabinete redecorado ficámos também a saber que "quem tenha algumas luzes culturais percebe [na decoração] a alusão a Ricardo Reis e à herança cultural da antiguidade clássica". Nada justifica o uso de dinheiro público na decoração do local de trabalho, nem que José Magalhães esperasse um dia receber visita da Lídia do citado heterónimo de Fernando Pessoa ["Vem sentar-se comigo Lídia, à beira do rio"].

Enganamo-nos e engana-se a troika. O problema de Portugal é um problema de decoração. Cada governo, sua estética – mudam gabinetes e também leis, administradores, orgânicas, supervisores, muda tudo, só a casa é sempre a mesma.


IN "CORREIO DA MANHÃ"
17/01/12

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