05/12/2011

RUI SANTOS



Contrato de Bento

O selecionador nacional, Paulo Bento, foi muito célere em desencadear um debate público sobre a questão do seu contrato com a FPF, que termina quando estiver concluída a fase final do Euro’2012. Alcançada a qualificação para o certame organizado pela Polónia e Ucrânia, tentando jogar com o halo imediatista das emoções a com a fase de transição entre o madailismo e a “nova Federação”, com Fernando Gomes ou Carlos Marta em campanha para a respetiva presidência, o selecionador nacional jogou, sem bluff, a carta de trunfo: quer a situação contratual “resolvida” antes da partida para o Europeu. É uma exigência sem qualquer tipo de sentido. E corresponde a uma interpretação do conceito de “seriedade” muito enviesada...

Paulo Bento assinou um contrato com a FPF. Assinou de livre vontade. E não foi por acaso que assinou um contrato com duração válida até à conclusão do Euro’2012. Poderia ter assinado um acordo com validade até à conclusão da fase de apuramento, com uma cláusula específica a “obrigar” a FPF a prolongar o vínculo para além do Euro’2012, em caso de qualificação. Seria mau se a FPF, ainda por cima com uma direção “a prazo”, no caso de a negociação ter sido encaminhada nesse sentido, aceitasse uma tal condição. Em todo o caso era um direito legítimo de Paulo Bento deixar tudo muito bem definido para não se colocar, a meio do caminho, qualquer tipo de constrangimentos. Afinal, havia começado o seu desempenho com a Seleção numa situação difícil (dois jogos, um ponto) e, na sua cabeça, poder-se-ia ter gerado – no momento em que tudo começou – um “mecanismo de compensação”. Não foi isso que Bento fez, nem de resto parece ser muito sério o que fez. Jogou, repito, com as emoções, e no calor dos festejos da qualificação entrou “de carrinho”, reduzindo o espaço e o tempo de manobra a Carlos Marta e Fernando Gomes.

Atente-se: na conferência de imprensa logo após o jogo da Luz com a Bósnia, com os portugueses a festejar a qualificação, Bento fez liminarmente duas coisas: “vingou-se” de Ricardo Carvalho e Bosingwa (“no Europeu... só como espectadores”) e clamou pela celebração de um novo contrato. Pode parecer sério, mas não é.

Ninguém retira a Paulo Bento os méritos que tem no apuramento, mas apenas na justa medida em que os possui. Nem mais nem menos. Aproveitou o ambiente de “chicotada político-psicológica”, reuniu as tropas nos primeiros jogos, mas, a pouco e pouco, e de novo com rapidez, destruiu o que havia ajudado a construir. Bento tem tido sorte com as conjunturas e soube aproveitar a sorte e as conjunturas. Mas não se faça aquilo que não é: um treinador completo, um treinador para ser reconhecidamente “o treinador dos treinadores portugueses”, que seria aquilo que, em tese, um selecionador nacional deveria ser. Bento ainda não está preparado para uma cadeira tão grande e disso parece não ter noção, nem mesmo com os disparates realizados à volta de Bosingwa, Ricardo Carvalho e Danny.

Nada me surpreende neste “pré-histórico” futebol português, mas seria muito mau se Gomes e/ou Marta cedessem à brutal e pouco séria chanta-gen-zinha.


IN "RECORD"
01/11/12

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