08/12/2011



HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"


Ataques de piratas decididos 
numa sala de chat

De dia, discute-se o capitalismo, a corrupção e a falência da democracia. À noite, partilham-se "armas" para usar contra websites vulneráveis. Pelo meio, há tempo para dar aulas de segurança e ataque aos "newbies" (mais novos) que queiram ajudar o objectivo comum.

A sala de chat dos AntisecPT, que têm reclamado o ataque a sites de várias instituições, está no já quase esquecido IRC (sistema de salas de conversação muito popular antes do advento das redes sociais). Hoje em dia, o espaço do grupo é mais uma mescla de gente curiosa do que um sítio público de concertação de ataques.

A revolta, nos dias que antecedem o grande ataque marcado para amanhã, planeia-se nos bastidores. Em público, muitos queixam-se dessa falta de filtro, em que se ataca tudo só porque dá para atacar. Outros incentivam o caos, mas relembram a máxima do grupo. Afinal de contas, pretendem deixar uma mensagem a quem governa: o povo tem voz e quer revolução.

Tomás Silva, ex-hacker e consultor de segurança, acredita, no entanto, que o grupo é "demasiado descentralizado. Na essência, não há grupo, mas sim uma ideia, um conceito. Nada mais", explica ao JN. Apesar de acreditar ser "improvável" que os ataques tenham "ligações internacionais", os ideais de base parecem ser os mesmos e resultam de "muita desinformação", em especial sobre "os culpados da crise e das injustiças do Mundo. Hoje está toda a gente a virar-se contra o capitalismo porque não lhe reconhecem virtudes", diz. "Estes jovens estão a tentar fazer algo popular. No fundo, as pessoas gostam de aparecer nas revistas e na TV e a carreira de activista é bastante aliciante", entende.

Para Tomás Silva, apesar de alguns sites políticos terem sido atacados, estes grupos não têm "filiação política" e "pouco percebem" do assunto. "No fundo, a intenção deles é boa. É a forma deles darem o seu contributo sem terem de sair à rua", explica.

Ricardo Lafuente, um dos fundadores do Hacklaviva, tem opinião diferente. Evitando o título de hacker, tido como "muito deselegante", e garantindo que aquele "hackerspace" do Porto não tem "envolvimento" na iniciativa, acredita que a "postura politicamente activa" dos ataques tem paralelo com o que sucede no estrangeiro.

Lafuente considera que é errado encarar este grupo como "white hat" ou "black hats" ("bons" ou "maus" hackers), pois o método usado nos ataques escapa a tal distinção. "O objectivo é político e propagandista", servindo os ataques para enviar uma "mensagem de crítica e denúncia da actual situação política e económica em Portugal", assegura. A "forte motivação ideológica demonstrada nas mensagens" descarta, para Lafuente, "a hipótese de isto ser um passatempo".

Vídeos do Youtube ensinam

Existiram, na história recente, grupos díspares em Portugal, com objectivos e estratégias diversas. Agora reunidos no AntisecPT, "entopem" um site até o tornarem inoperacional, invadindo as páginas e deixando mensagens.

Existem inúmeras ferramentas online, bem como tutoriais disponíveis no Youtube e páginas que explicam o que fazer. Parecem ser autodidactas, mas trabalhar (ou estudar) em áreas relacionadas com programação. A idade não é um posto e, apesar de serem maioritariamente novos, parece haver gente de idades variadas.

Novo movimento

Lusitânia Leaks

Além dos Lulsec e AntisecPT, surgiu esta quarta-feira um novo movimento, Lusitânia Leaks (ou Luzleaks) que já reivindicou um ataque à página do Ministério da Economia.

Manifesto

Segundo os Luzleaks, o objectivo não é ganhar fama (não querem "magoar ninguém") mas sim dar a conhecer "as raízes da corrupção do nosso país".

Sites atacados

Entre os muitos sites atacados, as páginas da Procuradoria-Geral da República e de uma associação da PSP foram aqueles que mais provocaram preocupações, uma vez que foram retirados documentos confidenciais. Foram alvo de ataques os ministérios da Economia, da Educação, o PS, o PSD, o Banco de Portugal, SIS, Finanças e Freeport entre outros.

Grande operação

O movimento AntisecPT continua a apelar ao ataque em massa de amanhã e sábado. Os responsáveis da operação apelaram a que sejam guardados mais documentos pirateados para divulgação nestes dias.


* Não vislumbramos nestes grupos génese de movimento de libertação ideológica, invadir privacidade, arquivos secretos é mais terrorismo, parece que tolerado.


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