01/12/2011



HOJE NO
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Espanha e Portugal
A restauração da interdependência

Vai deixar de ser feriado mas continuará a ser lembrado por portugueses e espanhóis (mais deste lado da fronteira, claro) como o dia em que Portugal recuperou a independência e terminou com a dinastia filipina. Quase 500 anos depois, os vizinhos da Península Ibérica parecem mais amigos do que nunca no futebol. Sporting e Benfica nunca tiveram tantos estrangeiros e a melhor liga do mundo também já foi invadida pelo talento português

Espanhóis em Portugal

lll Sabe quem foi o primeiro espanhol a jogar em Portugal? O i ajuda: foi Andrés Mosquera (Sporting em 1944/45). Desde então, vários espanhóis passaram pelo campeonato nacional mas foi preciso esperar muitos anos para haver uma verdadeira abertura das fronteiras. A partir da década de 70 caiu a ideia de que ir a Espanha só servia para comprar caramelos e começou-se a trazer também jogadores. Paco Fortes foi um exemplo que ficou para mostrar que também tinha jeito para treinar mas foram o Desp. Chaves e o Farense, equipas com ligações mais fortes a Espanha, que mais contribuíram para um total de 78 jogadores em equipas portuguesas.
A chegada de jogadores espanhóis aos três grandes demorou mais. Se o Sporting teve Mosquera na década de 40 e o FC Porto contratou Dieste em 1954/55, o Benfica esperou quase até à viragem do século para ter o primeiro futebolista espanhol no plantel. Vivia-se o ano de 1999 e os grandes de Lisboa abriram-se por completo, pela primeira vez, à influência espanhola: Tote e Chano na Luz e Toñito e Robaina em Alvalade. A iniciativa teve sucesso, o Sporting voltou a ser campeão e, 32 anos depois de Jorge Mendonça se ter sagrado campeão espanhol pelo Atlético Madrid, Toñito e Robaina plagiaram a proeza. O FC Porto aproveitou a fase espanhola dos grandes de Lisboa e no ano seguinte contratou Pizzi. Mais uma vez, o clube das Antas mostrou pouca apetência por jogadores do outro lado da fronteira e não repetiu a aposta desde então.
O mesmo não se pode dizer dos clubes de Lisboa. A restauração da interdependência entre jogadores portugueses em Espanha e espanhóis em Portugal ganhou força desde a chegada de Quique Flores. Reyes inaugurou a aposta encarnada nos excedentes das equipas espanholas, integrado na venda de Simão Sabrosa, e desde então nunca mais parou. Actualmente, o Benfica tem quatro espanhóis (Javi García, Capdevila, Nolito e Rodrigo), enquanto o Sporting vive o primeiro ano de uma nova aposta, com os extremos Diego Capel e Jeffrén. A lista fica completa com o jovem Fran Mérida, emprestado pelo Atlético Madrid e que chegou a Braga no acordo que levou Pizzi, o português, para a capital espanhola.
O número este ano está longe de alcançar o recorde de 2000/2001 (15), mas ainda assim chega para fazer de Espanha o sexto país com mais jogadores em Portugal, atrás de Brasil (141), Argentina (13), Cabo Verde (12), França (8) e Guiné-Bissau (8). O Uruguai também tem sete. Em 1640 os portugueses não podiam ouvir falar em espanhóis, mas agora percebem que há áreas em que pode ser vantajoso e que nem tudo é caramelo.

Portugueses em Espanha

lll Chamam-lhe El Portugués e fez furor em Espanha. Se pensa que estamos a falar novamente de Futre, está enganado. Afinal havia outro. Chama-se José Vara Martínez, nasceu em Vila Nova de Gaia em 1912 e é filho de pai galego e mãe portuguesa. A influência do pai fez com que fosse viver para a Galiza e nas décadas de 30 e 40 brilhou ao serviço do Racing Ferrol, em escalões inferiores, e no Deportivo, de 1942 a 1945. Segundo quem o conhecia, era um defesa forte fisicamente, muito rápido e que não só correspondia a nível defensivo como gostava de integrar as jogadas de ataque. Apesar de ter estado apenas três anos no Deportivo, teve o privilégio de estar na inauguração do Riazor, em 1944, e em 1995 foi homenageado antes de um jogo contra o Salamanca (2-0).
José Martínez não sabia mas estava a dar início a uma moda de portugueses que seguiram em direcção a Espanha da mesma forma que D. Afonso Henriques partiu em direcção aos territórios vizinhos: com espírito de conquistador. Jorge Mendonça foi o primeiro campeão pelo Atlético Madrid e, no mesmo clube, Paulo Futre ganhou estatuto de herói, que preserva até hoje. Em 1994/1995 houve um hiato, mas desde então a invasão nunca mais parou. Luís Figo foi o primeiro a mostrar aos espanhóis que o canto ocidental da Europa ainda tinha talento para dar e vender. O Barcelona aproveitou o modelo de negócio e em 1997/98 foi campeão com Fernando Couto, Luís Figo e Vítor Baía no plantel, numa época em que havia 18 portugueses na liga espanhola, muito por culpa do Salamanca de Pauleta e companhia.
Os tempos mudaram e o Barcelona é agora o clube da formação, já não há espaço para portugueses. A esfera de influência mudou para Madrid e Real e Atlético são donos e senhores da influência lusa: os merengues têm Fábio Coentrão, Ricardo Carvalho, Pepe e Cristiano Ronaldo (para não falar do peso de José Mourinho, Silvino, Rui Faria e companhia) e os colchoneros contam com Sílvio, Tiago e Pizzi. Depois ainda há o Saragoça (com três portugueses e dois internacionais: Postiga e Ruben Micael) e várias equipas espalhadas pelo país com um ou dois portugueses.
Nunca o campeonato espanhol teve tantos portugueses como nesta época e a tendência é para aumentar. Na liga que é considerada a melhor do mundo, Portugal tem uma quota de 12% dos estrangeiros a actuarem na Liga BBVA. Melhor só a Argentina (33 jogadores e 17,2%) e o Brasil (25 jogadores e 13%). As estatísticas valem o que valem, mas longe vai o tempo em que ver um jogador sair para um campeonato estrangeiro era um motivo de festa.


* Temos esperança de que um novo governo reponha a comemoração do 1º de DEZEMBRO. a bem da nossa memória colectiva.
Um povo que se esquece da História está muito à rasca, por ser  gerido por um governo rasca.

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