07/12/2011




HOJE NO
"i"

EDP. Jogos de bastidores 
tentam influenciar decisão
Alemães, brasileiros e chineses entregam 
propostas na sexta-feira. Empresa alemã 
é única 100% privada e valoriza sinergias nas eólicas

A aquisição da participação de 21,3% na EDP tem-se travado em dois campos: ao nível da comunicação social e a um nível mais privado, longe do escrutínio público, o que é considerado normal por várias fontes contactadas pelo i, tendo em conta a complexidade e os meandros do negócio.

A E.On está bem lançada para obter a maior participação na jóia da coroa das vendas que o Estado português, por imposição da troika, vai ter de trazer até ao final do próximo ano, e que incluem ainda a REN, a ANA - Aeroportos de Portugal, a TAP e a CP Carga, entre outras.

O contrato da venda da participação da EDP deverá ser assinado até ao final do ano. A verba, que se situa entre os três e os quatro mil milhões de euros, destina-se a abater dívida pública.

Para a alemã E.On, a participação na EDP potencia sinergias já existentes com a eléctrica portuguesa na área das renováveis. A empresa é totalmente privada e cotada em bolsa.

Num encontro realizado na segunda-feira com jornalistas em Düsseldorf, Marcus Schenck, CEO da empresa, disse que esta tem disponíveis sete mil milhões de euros, mais de três vezes o valor de referência desta privatização. A mesma fonte elogiou o know-how da actual equipa liderada por António Mexia, mas adiantou que a EDP pode recentrar o seu core business, vendendo algum dos seus activos para diminuir o nível de endividamento.

A aposta industrial da E.On é claramente nas energias não poluentes, com particular incidência para as renováveis, e aumentar a participação em países como o Brasil, que considera ter um enorme potencial de crescimento nos próximos anos.

“A EDP é uma empresa muito atractiva”, disse. “É uma das melhores utilities da Europa. Está centrada na energia limpa e consciente da sua responsabilidade nas emissões de carbono. O terceiro ponto importante para nós é a presença no Brasil, país onde estamos interessados em melhorar a nossa performance”, referiu a mesma fonte.

Os brasileiros da CEMIG e da Eletrobras e os chineses da Three Gorges são os outros finalistas escolhidos pelo executivo para a alienação da sua participação naquela que é considerada a jóia da coroa das privatizações. As duas brasileiras, ao contrário da E.On, são controladas pelo Estado, enquanto a chinesa é 100% estatal.

Caso vença a Three Gorges, isso poderia colocar a EDP na posição de ter de retirar-se dos Estados Unidos, uma vez que o regulador norte-americano, o Comittee on Foreign Investment in the United States (CFIUS), que analisa o investimento estrangeiro, tem criado dificuldades à entrada de capitais provenientes de países como a China, a Rússia e o Médio Oriente. Este organismo impediu recentemente a compra da 3Leaf pelo construtor de telecomunicações Huawei, enquanto o grupo estatal chinês CNOOC também não conseguiu comprar a petrolífera americana Uncoal.

Sobre a brasileira CEMIG, o jornal “Estado de São Paulo” escreveu em Outubro, num artigo intitulado “Energia Cara e de Baixa Qualidade”, que a candidata à aquisição do lote do Estado na EDP não cumpre as suas obrigações contratuais para com os seus clientes. “No caso da indústria”, escreve o jornal, “o problema é ainda mais grave e vai além dos blackouts: muitas vezes, interrupções de curta duração e variações na tensão de fornecimento geram impactos tão ou mais significativos na produção industrial do que apagões de várias horas.” As consequências, ainda segundo aquele diário, são perdas directas na produção, queima e quebra de equipamentos, redução da vida útil dos mesmos e desgastes significativos quando voltam a funcionar.

O quarto candidato à aquisição da EDP também tem tido alguns percalços na sua relação com o governo Lula da Silva e agora de Dilma. Valter Cardeal, director de Planeamento e Engenharia da empresa, “homem de confiança de Dilma Rousseff” segundo a “Folha de São Paulo”, estaria envolvido numa fraude de 157 milhões de euros. De acordo com o jornal, o seu irmão actuava como consultor de empresas interessadas em investir em energia eólica, que depois prestavam serviços à Eletrobras. No Brasil está também previsto o fim das concessões das distribuidoras para 2015, devendo o governo avançar com as privatizações destas empresas. Ao longo dos últimos dez anos, as distribuidoras fecharam sempre no vermelho. Em 2011, o prejuízo somou mais de meio milhão de reais (207 milhões de euros), e até ao primeiro trimestre de 2012, o passivo de curto prazo tinha um descoberto de 750 milhões de reais (311 milhões de euros).


* A questão quase se resume a luvas e futuros tachos...

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