11/12/2011


ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
Londres: 
marcha contra a depilação 
e cirurgia estética vaginal
"Eu amo a minha vagina!" 
Com esta e outras palavras de ordem, cerca de 300 mulheres britânicas participaram ontem numa marcha
em Londres, contra a depilação dos pelos púbicos 
femininos e as cirurgias para rejuvenescimento vaginal
Kate O'Brien e Sinead KIng, membros da organização feminista britânica The Muffia, durante a campanha contra a vaginoplastia estética
O boom de cirurgias plásticas vaginais e a depilação dos pelos púbicos femininos, no Reino Unido, está a preocupar especialistas e feministas britânicos. Este sábado, pelo menos três centenas de mulheres participam de uma marcha sui generis em Harley Street, Londres, contra "the pornification of our private parts".

A convocação para o protesto está a ser feita, através do Facebook, pela The Muffia, organização feminista que reúne também artistas do espetáculo. A razão da manifestação é o aumento crescente, quer nas clínicas do Serviço Nacional de Saúde quer no setor privado, das vaginoplastias por razões estéticas.

As manifestantes são contra todos os tipos de cirurgia vaginal, quer a labioplastia genital (remoção de pele dos lábios vaginais) quer a cirurgia para o rejuvenescimento da vagina, também denominada "designer vagina".

A marcha agendada para amanhã pela The Muffia é também um protesto contra a "obsessão (das mulheres) de remover os pelos púbicos".
Cirurgia plástica vaginal em raparigas com idade escolar

No passado mês de agosto, especialistas britânicos alertaram para a tenra idade das raparigas britânicas interessadas em submeter-se a cirurgias plásticas da vagina, e refere que o procedimento é feito indiscriminada e precocemente, na maior parte dos casos sem qualquer necessidade.

Um estudo publicado na Revista Internacional de Obstetrícia e Ginecologia, citado pela BBC, refere que o número de cirurgias da vagina realizadas pelo serviço nacional de saúde (SNS) aumentou cinco vezes em dez anos. Muitas das pacientes são raparigas em idade escolar.

A pesquisa foi a primeira a analisar concretamente as dimensões dos lábios vaginais de raparigas e mulheres interessadas em passar por este tipo de cirurgia. A média de idade dos 33 casos analisados - pacientes que requisitaram o procedimento e receberam a indicação de clínicos gerais para fazer a cirurgia pelo serviço público - era de 23 anos. Oito das raparigas ainda estavam em idade escolar.

De acordo com a investigação, quase todas as pacientes tinham os pequenos lábios de tamanho normal. Três delas quiseram fazer a operação para corrigir uma assimetria significativa.

O estudo revelou, também, as razões que fizeram com que essas mulheres optassem pela cirurgia, e em que idade isso ocorreu. Sessenta por cento responderam que queriam diminuir o tamanho dos pequenos lábios e melhorar a sua aparência, enquanto as restantes apontaram desconforto, melhoria da autoestima e desejo de melhorar as relações sexuais.

Entre os motivos citados estavam "comentários de um parceiro sexual" e "programas televisivos sobre cirurgia plástica". Para 30% das mulheres estudadas, a insatisfação com a aparência surgiu entre os 11 e os 15 anos de idade.

Entre as que tiveram o seu pedido recusado, 40% disseram continuar interessadas em passar pelo procedimento, e algumas aceitaram a indicação para tratamento psicológico. Apenas uma foi encaminhada para tratamento por doença mental.

"É surpreendente. Uma delas tinha apenas 11 anos. O desenvolvimento da genitália externa continua durante a adolescência, sendo que os pequenos lábios podem desenvolver-se assimetricamente no início e ficarem mais simétricos com o passar do tempo", disse a investigadora da University College London, Sarah Creighton.
Números crescentes

Os investigadores advertem que a prática frequente deste tipo de cirurgia no âmbito do SNS "é apenas a ponta do iceberg". E que na rede privada, a cirurgia plástica vaginal é um setor que passa por um boom" no Reino Unido.

De acordo com o estudo, em 2008, o número de cirurgias plásticas vaginais aumentou 70% comparado com o ano anterior: 1118 labioplastias (669 em 2007 e 404 em 2006). Apenas no SNS.

Já o Harley Medical Group registou 5000 casos de "ginecologia estética" no ano passado, 65% para redução dos pequenos lábios.

Os especialistas alertam para os riscos, advertem que a cirurgia para reduzir os pequenos lábios é irreversível, e que os efeitos a longo prazo não são completamente conhecidos.

A Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos pede aos clínicos gerais do Reino Unido para serem mais rigorosos na hora de decidir quem precisa deste tipo de cirurgia.
Depilação e cirurgia podem estar relacionadas

O número de adolescentes britânicas preocupadas em eliminar os pelos púbicos é também crescente. Em parte, porque a depilação (completa) é agora moda. E esta prática deixa à vista as partes genitais, levando a que se preocupem também com a sua aparência.

Segundo afirma Jane Martinson, no seu "The Women's Blog" publicado no jornal "The Guardain", alguns especialistas sugerem que o recurso a cirurgias plásticas da vagina é uma disfunção.

Outros vêem estas práticas como uma extensão da "pornificação" da sociedade em Inglaterra (também muito criticada por escritoras feministas). Ou seja, como hoje é aceitável que os jovens vejam pornografia explícita (onde a padronização da aparência genital é encorajada e a maior parte das atrizes não apresenta pelos púbicos), muitos acabam por adotar estes padrões como "norma".

Jane Martinson, uma das raparigas que pediu para ser operada justificou-se afirmando ter consultado um exemplar da revista "Playboy" para ver como eram as raparigas das fotografias. "Algumas pareciam ter os pequenos lábios muito reduzidos, ou mesmo não os ter", disse.


* Dada a delicadeza do assunto preferimos não comentar, mas as saias levantadas são uma graça.


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