19/11/2011

LUÍS RAINHA


O mercado e os seus videntes

Quando as nossas vidas eram governadas por superstições mais primitivas, dávamos rostos e nomes às forças da natureza, sonhando-lhes vidas, amores e desavenças.

Hoje a mitologia dominante funciona ao contrário: somos vassalos da entidade omnipresente a que chamamos Mercado. Esquecemos que se trata apenas de um agregado de comportamentos humanos e começamos a imaginá-lo coisa sujeita a leis, previsível aos olhos dos sábios. Vivemos medrosos sob o jugo de um leviatã cego, capaz de fazer brotar tormentas sobre divisas, países, multidões esfaimadas.

Como sempre, não faltam acólitos à nova divindade. Os devotos reúnem-se em think tanks e comités. Depois, "baixa o santo"; entram em transe colectivo e desatam a orar ao que julgam ser o supremo objectivo humano: facilitar a vida à Mão Invisível.

Assim desabrocham coisas como o dito "Grupo de Trabalho", com a sua doutrina de que a TV, a Rádio e a Informação devem ser entregues apenas ao Mercado. Este, na sua infinita sabedoria, não precisa de regulação exterior – extinga-se a ERC. Tem sempre fome de mais receitas – fim à publicidade nos canais do Estado. Dá-se melhor com cidadãos dependentes do que ele lhes diz – minimize-se a informação oriunda de outras paragens. É alérgico à diversidade – corte-se uma das irritantes e heterogéneas antenas da RDP.

Eles nem fazem por mal; estão apenas ansiosos por servir o seu deus. Esperando, claro, que deles venha a ser o reino dos céus.

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16/11/11

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