25/11/2011

J.L. PIO ABREU



 São os juros, estúpido


Todos sabem como são os empréstimos. Quem deles não precisa paga juros baixos e pode até pedir emprestado para emprestar com juros altos. E quem, de facto, precisa de empréstimos paga juros muito altos, pois são acrescidos do prémio de risco – um nome eufemístico para esconder a usura. Os credores seguram-se com os altos juros e ainda a hipoteca. Em juros e amortizações, o devedor chega a pagar mais do dobro do que devia, mas todos esperam que a um dado momento ele não consiga mais pagar. Nessa altura, tem de devolver o bem hipotecado. A crise recente do subprime começou porque as hipotecas deixaram de valer o que se pensava.

Mas o negócio era tão bom, que se generalizou. Finalmente, o dinheiro a produzir dinheiro, como postulavam os dogmas capitalistas. Os empréstimos viraram-se para as empresas, cujas hipotecas podiam não render. Mas os credores socorreram-se dos matemáticos para ajustar os seus prémios, e seguraram-se ainda com os CDSs e a futurologia criada pelas Agências de Rating. O negócio continuou em grande escala, já que, além das empresas, também emprestam aos Estados.

O negócio continua a uma escala nunca vista, agora à custa dos países europeus do sul. Perdem dinheiro e património. Ninguém ligava aos desgraçados que, por causa dos juros, ficavam sem abrigo nem pão. Agora são povos inteiros, dá demasiado nas vistas. Não dará também para perceber que quem faz dinheiro a partir do dinheiro tem de o ir buscar a alguém?

IN "DESTAK"
10/11/11

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