22/11/2011



HOJE NO
"i"

Dois mil novos médicos 
fazem hoje prova “medíocre”
Exame de acesso ao internato da especialidade é criticado há vários anos. Mas continua a ser feito

Prova “medíocre”, feita “amadoristicamente”, dependente da boa ou má memória dos candidatos e com conteúdos desadequados. Hoje, quando forem 15 horas, os licenciados em Medicina que pretendem o acesso ao internato da especialidade quererão tudo menos ouvir as críticas dos directores das faculdades que frequentaram ao exame que lhes ditará o futuro. As críticas, feitas pelos directores de quatro faculdades de Medicina, são duras. E a solução, que pareceu começar a concretizar-se no anterior governo, está neste momento “em aberto”.
O exame de 100 questões de escolha múltipla foi instituído depois do 25 de Abril como “solução temporária” para a colocação dos médicos, explicou ao i Nuno Sousa, director do Curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho. Desde então, a chamada Prova Nacional de Seriação mantém-se, embora seja consensual que não serve os propósitos para que foi criada. Assenta em cinco capítulos do famoso “Harrison – Tratado de Medicina Interna”, mas deixa de fora conteúdos como ginecologia ou neurologia.
Miguel Castelo-Branco, director da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, aponta vários problemas: além das “perguntas, sem validação, por vezes mal feitas e sujeitas a reclamação e posterior anulação”, favorece quem tem maior capacidade de memorização. Outra lacuna é abranger apenas cinco áreas: aparelho digestivo, respiratório, cardiologia, doenças do sangue e nefrologia. José Agostinho Marques, director da Faculdade de Medicina do Porto, diz ainda que é pouco discriminativa, leva a muitos empates. As críticas são partilhadas por José Fernandes e Fernandes, director da Faculdade de Medicina de Lisboa, que fala de irresponsabilidade. “A prova actual é medíocre, não serve nenhum propósito sério de classificação e hierarquização dos candidatos ao internato.”
As críticas repetem-se nos últimos 35 anos, mas têm desde 2007 uma proposta alternativa: um exame com maior exigência analítica e mais temas, preparado em colaboração com o National Board of Medical Examiners (agência de avaliação e acreditação de médicos na América do Norte).
O ministério de Ana Jorge tinha decidido avançar com a substituição da prova a partir do próximo ano. Já em Junho, uma portaria do novo governo manteve a actual. A lei determina que qualquer revisão seja divulgada no mínimo com três anos de antecedência. “Por conseguinte, trata-se de um procedimento em aberto”, disse ao i fonte oficial da Administração Central do Sistema de Saúde. A manter-se este cenário, a prova continuará “medíocre” até 2015.
Nuno Sousa, que aos 43 anos lembra que já nos seus tempos de aluno a prova era considerada má, diz que neste momento uma prova como a que hoje vai ser feita é uma “idiossincrasia portuguesa”. Mesmo um exame único como porta de entrada para o internato é um modelo ultrapassado. “Verifica-se apenas nos países do Sul da Europa: Portugal, Espanha, Grécia e Itália”, explica Fernandes e Fernandes. Os modelos mais abrangentes, defende, devem incluir uma ponderação da média de curso mas também currículo, candidatura individual e entrevista nos serviços.

* Não dá para acreditar mas o "i" não mente. E os médicos portugueses são, na sua grande maioria, muito bons.


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