29/11/2011



HOJE NO
"i"

Comissão Europeia já não esconde 
divergência total com Paris e Berlim
Vice-presidente da CE diz que Alemanha 
e França bloqueiam propostas de Bruxelas 
e que não se pode esperar mais

A sugestão do presidente português a favor de uma intervenção “mais activa” do Banco Central Europeu (BCE), no início da crise grega, não teve acolhimento na altura, mas actualmente são cada vez mais as vozes que pedem uma maior e imediata intervenção do BCE para conter a crise da dívida e evitar a implosão do euro, como é o caso da própria Comissão Europeia.

Se até aqui o presidente da Comissão, Durão Barroso, se esforçava por mostrar que não havia grandes divergências em relação à Alemanha, afirmando que se tratava apenas de timings, o seu vice-presidente, o espanhol Joaquín Almunia, mostrou ontem que as divergências com Bruxelas e Berlim são profundas.

Almunia criticou abertamente os governos alemão e francês por bloquearem propostas da Comissão para resolver a crise do euro e advertiu que a Grécia tem “poucos dias” de liquidez.
Em declarações à TVE, Almunia criticou a falta de discussão ou mesmo rejeição das propostas da Comissão para responder à crise da dívida e queixou-se que mesmo as medidas que são adoptadas acabam por não ser postas em prática.

O vice-presidente da CE avisou que por isso, e se não se resolver rapidamente o pagamento da última tranche do resgate financeiro à Grécia, Atenas terá problemas de liquidez que se estenderão a outros países, como Irlanda e Portugal, que considerou “vítimas imediatas” do problema grego. “Isto não se pode resolver só em Março”, disse, referindo que a solução tem de sair do próximo Conselho Europeu, de 9 de Dezembro.

O que falta, insistiu, é tomar decisões e aplicar as que já foram tomadas há vários meses.
No Conselho Europeu de Dezembro, defendeu, os 27 devem apresentar propostas para uma reforma dos tratados em vigor, a fim de melhorar o governo da zona euro.

Considerando que as instituições europeias “estão a fazer muito”, mas que a resposta de alguns estados-membros não tem sido a esperada, Joaquín Almunia criticou sobretudo a Alemanha e a França por “acharem que têm o direito de tomar decisões em nome de todos”.

O responsável recordou que, já em Junho, a Comissão adoptou medidas urgentes para resolver o caso grego e avançar numa solução para a crise da dívida pública de vários países, mas que essas decisões nunca foram aplicadas.

“Isto não pode acontecer”, sublinhou, defendendo ainda a decisão do BCE de comprar dívida pública de Espanha e Itália e considerou que a instituição financeira deve passar a emitir eurobonds (títulos de dívida europeia).

O analista da Fitch, Douglas Renwick, veio ontem dizer que Portugal provavelmente terá de continuar o ajustamento das contas públicas após o final do programa e de pedir mais ajuda externa se não conseguir regressar aos mercados em 2013. “Os efeitos de contágio da crise na zona euro podem baixar ainda mais o crescimento em Portugal. Mais, a profundidade da recessão é mais difícil de projectar já que é única na história moderna de Portugal”, acrescentou.

“Bastaria que o BCE se empenhasse para que os problemas da zona euro fossem maioritariamente resolvidos, sem que mesmo a instituição tivesse necessidade de o fazer efectivamente”, afirmou à AFP o professor da Universidade de Paris e economista Christian Bordes, aludindo à hesitação do BCE.

Idêntica opinião tem o Nobel da Economia Paul Krugman: “O BCE deve enviar uma mensagem clara: compraremos o que for necessário para evitar a implosão da zona euro, cujo preço seria demasiado elevado.”

A urgência do recurso ao BCE é cada vez mais evocada pelos líderes políticos europeus. O ministro francês das Finanças, François Baroin, deu ontem a entender que o “BCE é uma resposta e provavelmente um elemento importante de resposta a esta crise”. A França gostaria que pelo menos o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) pudesse recorrer aos empréstimos do BCE, o que na prática atribuiria ao Banco Central Europeu a responsabilidade pelo fundo. Porém, a Alemanha continua a recusar obstinadamente envolver mais o BCE na resolução da crise do euro, que se estende perigosamente a mais países.

Apesar da oposição alemã, o BCE está a comprar cada vez mais dívida da zona euro. A semana passada comprou 8581 milhões de euros. Desde Maio de 2010, quando a medida extraordinária foi adoptada, o BCE já comprou mais de 200 mil milhões de euros em dívida pública no mercado secundário.


* Das duas uma ou Merkel cai ou Barroso é despedido por desobediência.


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