20/11/2011

10 - VULTOS DA CULTURA DA TERCEIRA REPÚBLICA »»» natália correia


Natália de Oliveira Correia(Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993[ foi uma intelectual, poetisa e activista social açoriana, autora de extensa e variada obra publicada, com predominância para a poesia. 

 Deputada à Assembleia da República (1980-1991), interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Autora da letra do Hino dos Açores. Juntamente com José Saramago (Prémio Nobel de Literatura, 1998), Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).
A obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. 

Foi uma figura central das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas.

Biografia
Quando tinha apenas onze anos o pai emigra para o Brasil, fixando-se Natália com a mãe e a irmã em Lisboa, cidade onde faz estudos liceais no Liceu D. Filipa de Lencastre. Iniciou-se na literatura com a publicação de uma obra destinada ao público infanto-juvenil mas rapidamente se afirmou como poetisa.
Notabilizada através de diversas vertentes da escrita, já que foi poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora[3], tornou-se conhecida na imprensa escrita e, sobretudo, na televisão, com o programa Mátria, onde advogou uma forma especial de feminismo (afastado do conceito politicamente correcto do movimento), o matricismo, identificador da mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte matricial da humanidade; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta a de Frátria.

Dotada de invulgar talento oratório e grande coragem combativa, tomou parte activa nos movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969). 

Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes, (1966) e processada pela responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta. Foi responsável pela coordenação da Editora Arcádia, uma das grandes editoras portuguesas do tempo.

A sua intervenção política pública levou-a ao parlamento, para onde foi eleita em 1980[3] nas listas do PPD (Partido Popular Democrático), passando a independente. Foi autora de polémicas intervenções parlamentares, das quais ficou célebre, num debate sobre o aborto, em 1982, a réplica satírica que fez a um deputado do CDS sobre a fertilidade do mesmo.

 Fundou em 1971, com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta, o bar Botequim, onde durante as décadas de 1970 e 1980 se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa. Foi amiga de António Sérgio (esteve associada ao Movimento da Filosofia Portuguesa), David Mourão-Ferreira ("a irmã que nunca tive"), José-Augusto França ("a mais linda mulher de Lisboa")[2], Luiz Pacheco ("esta hierofântide do século XX"), Almada Negreiros, Mário Cesariny ("era muito mais linda que a mais bela estátua feminina do Miguel Ângelo"),[4] Ary dos Santos ("beleza sem costura")[5], Amália Rodrigues, Fernando Dacosta, entre muitos outros. Foi uma entusiasmada e grande impulsionadora pelo aparecimento do espectáculo de café-concerto em Portugal, na figura do polémico travesti Guida Scarllaty, o actor Carlos Ferreira, na época um jovem arquitecto de quem era grande amiga. Na sua casa, foi anfitriã de escritores famosos como Henry Miller, Graham Greene ou Ionesco.

Natália Correia recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos. No mesmo ano foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade; era já detentora da Ordem de Santiago.

Natália Correia casou quatro vezes. Após dois primeiros curtos casamentos, casou em Lisboa a 31 de Julho de 1953 com Alfredo Luiz Machado (1904-1989), a sua grande paixão, bem mais velho do que ela e já viúvo, casamento este que durou até à morte deste, a 17 de Fevereiro de 1989. (São já notáveis as cartas de amor da jovem Natália para Alfredo Luiz Machado.) Em 1990, tinha Natália 67 anos de idade, celebrou um casamento de conveniência com o seu colaborador e amigo Dórdio Guimarães.

Morte
Na madrugada de 16 de Março de 1993, morreu subitamente, com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de regressada do Botequim. A sua morte precoce deixou um vazio na cultura portuguesa muito difícil de preencher. Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa) constante de muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca privada.

Cronologia
* 1923 - A treze de Setembro, nasce na Fajã de Baixo (Ilha de São Miguel) Natália de Oliveira Correia. É filha de Maria José de Oliveira e de Manuel de Medeiros Correia. A mãe é professora primária e virá a publicar alguns romances nos anos 40.
* 1929 - O pai emigra para o Brasil. Natália e a sua irmã Cármen tornam-se alunas da própria mãe.
* 1934 - Vivendo já em Ponta Delgada, Natália inscreve-se no 1º ano do Liceu Antero de Quental. No entanto, em Outubro, Maria José pede pede transferência das filhas para o Liceu D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, cidade onde passam a residir com a mãe.
* 1935 - A partir de Janeiro frequenta o Liceu D. Filipa de Lencastre.
* 1938 - Maria José de Oliveira funda um colégio particular na Rua Moraes Soares, onde passa a morar com as filhas.
* 1942 - a 14 de Setembro, Natália casa com Álvaro dos Santos Dias Pereira e fica a residir na Rua Rodrigo da Fonseca.
* 1944/5 - Jornalista no Rádio Clube Português, Natália conhece Tomaz Ribas, Mário Soares e assina as listas do M.U.D. (Movimento de Unidade Democrática). O escultor Martins Correia (outro amigo de juventude) oferece-lhe o busto intitulando-o Poeta.
* 1946 - A 7 de Abril, publica o seu 1º poema («Manhã Cinzenta») no jornal Portugal, Madeira e Açores, bem como o romance Anoiteceu no Bairro.
* 1947 - Colabora em diversas publicações e dá à estampa o seu primeiro livro de poemas - Rio de Nuvens.
* 1949 - Após um casamento efémero com o norte americano William Creighton Hylen (celebrado em Marrocos), visita com ele a costa leste dos Estados unidos. Convive em Lisboa com Isabel Meyrelles e Cruzeiro Seixas. Apoia a candidatura de Norton de Matos à Presidência da Républica.
* 1950 - Desfeita a relação com William, casa com Alfredo Machado (17 de Agosto) e passa a morar na Rua Marquès de Fronteira. Conhece Mário Cesaryni e Eugénio de Andrade.
* 1951 - Publica o livro de viagens Descobri que era Europeia.
* 1952 - Conhece David Mourão-Ferreira. A mãe de Natália parte para o Brasil com a filha Cármen, curiosamente no mesmo navio em que regressará Manuel Correia.
* 1953 - Natália instala-se definitivamente com o marido na Rua Rodrigues Sampaio, nº 52, 5º andar, onde permanecerá até à morte.
* 1955 - Publicação de Poemas. Natália convive assiduamente com David Mourão-Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues e Mário Cesariny, de quem apresenta Manual de Prestidigitação em sua casa.
* 1956 - Morte da mãe de Natália no Brasil.
* 1957 - Publica o livro de Poesia Dimensão Encontrada.
* 1958 - Publica Passaporte e Comunicação (ambos de poesia) e o ensaio Poesia de Arte e Realismo Poético. Apoia a candidatura do Gen. Humberto Delgado à Presidência da Républica.
* 1960 - Grava o disco Natália Correia diz poemas de sua Autoria. Visita à Suécia e a Paris. Amizade com Fernanda de Castro.
* 1961 - Publicação de Cântico do País Emerso.
* 1962 - Natália conhece Dórdio de Guimarães e participa no congresso da «Comunitá Europea degli Serittori», em Itália.
* 1965 - Publicação d' O Homúnculo (texto dramático).
* 1966 - Natália Correia publica a Antologia de Poesia Erótica e Satírica, que na altura causa escândalo.
* 1968 - publica Mátria (poesia), a Madona (romance) e colabora no Diário de Notícias com a série de crónicas «O Poeta e o Mundo».
* 1969 - Publicação d' O Vinho e a Lira (poesia) e da pela O Encoberto que foi logo apreendido pela censura. Ao lado de Mário Soares, integra a C.E.U.D. (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática).
* 1970 - Natália é julgada pela publicação da Antologia de Poesia Erótica e Satírica, sendo condenada a três anos de prisão com pena suspensa. Publica ainda As Maçãs de Orestes (poesia) e antologias de poesia medieval.
* 1971 - Natália cria com Isabel Meyrelles a sociedade que dará origem ao bar «Botequim». Torna-se também directora da editora Estúdios de Cor.
* 1972 - publica a Mosca Iluminada (poesia) e escreve o libretto da cantata D. Garcia, com música de Joly Braga Santos.
* 1973 - Natália Correia deixa os Estúdios Cor e torna-se directora da Arcádia. Publica duas antologias (A Mulher e O Surrealismo na Poesia Portuguesa), além do livro O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (poesia).
* 1974 - Natália acolhe o 25 de Abril com entusiasmo. Publica o ensaio Uma Estátua para Herodes e inicia as «Crónicas Vagantes» no vespertino A Capital. O «Botequim» passa a ser frequentado por muitos políticos.
* 1975 - Publicação de Poemas a Rebate. N'A Capital a comissão de trabalhadores censura uma das suas crónicas e o director, David Mourão-Ferreira, demite-se por solidariedade. Durante o processo Revolucionário o «O Botequim» torna-se um dos centros do debate político em defesa da democracia pluralista. Aí se reúnem, por exemplo, Ramalho Eanes, Helena Roseta, Mota Amaral, Fernando Dacosta e os militares do «Grupo dos Nove».
* 1976 - Natália Correia Torna-se assessora do gabinete de David Mourão-Ferreira, então Secretário de Estado da Cultura, e directora da revista Vida Mundial. Publica ainda outro livro de Poemas (Epístola aos Iamitas).
* 1977 - Escreve um livro sobre Mário Cesariny, em colaboração com Lima de Freitas. A peça O Encoberto, é estreada no Auditório de Ponta Delgada, numa encenação de Carlos Avillez.
* 1978 - Publicação de Não Percas a Rosa - Diário e Algo Mais. Viagens a Inglaterra e aos Estados Unidos, onde lê poemas e faz conferências.
* 1979 - Desloca-se à ilha de São Miguel para acompanhar as filmagens de Santo Antero, filme de Dórdio de Guimarães, e proferir uma palestra sobre Vitorino Nemésio. Convive com Francisco Sá Carneiro e Snu Abecassis. É eleita Deputada à Assembleia da República, como independente, nas listas do P.P.D. Publica ainda o Dilúvio e a Pomba (poesia).
* 1980 - Natália Correia distingue-se por uma intensa actividade parlamentar. Acompanha o Presidente da República, Ramalho Eanes, na visita oficial à Áustria.
* 1981 - É condecorada pelo Presidente Eanes com a Ordem Militar de Sant' Iago Espada (Grande Oficial). Publica a peça teatral Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente.
* 1982 - Desloca-se aos Açores e à Alemanha Federal. Estreia na R.T.P. o programa «Neste Lugar Onde», de que é autora. Publica a Antologia de Poesia do Período Barroco e mantêm-se muito activa como deputada.
* 1983 - Continua a participar em vários programas televisivos e publica três livros: O Armistício (poesia), A Pécora (teatro) e a Ilha de Circe (romance).
* 1984 - Convidada pelo Presidente Ramalho Eanes (a quem se liga cada vez mais), profere o discurso do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (10 de Junho). É nomeada membro do Conselho de Imprensa e do Conselho para a Comunicação Social (cargos que ocupará até 1988).
* 1985 - Desloca-se à antiga União Soviética numa delegação portuguesa, saudando a Perestroika de Gorbatchov.
* 1986 - Escreve o Hino dos Açores. A R.T.P. começa a emitir a série «Mátria», concebida e apresentada por Natália Correia.
* 1987 - É de novo eleita deputada à Assembleia da República mas desta vez como independente nas listas do P.R.D. (próximo de Ramalho Eanes). Publica Onde Está o Menino Jesus? (ficção). A 8 de Março (dia Internacional da Mulher), o Centro Cultural Emmerico Nunes organiza em Sines uma exposição sobre a obra de Natália Correia.
* 1988 - representação da peça Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente pelo Teatro Experimental de Cascais (enc. de Carlos Avillez). Publicação do ensaio Somos Todos Hispanos.
* 1989 - A 17 de Fevereiro, morre Alfredo Machado, marido de Natália Correia . Deslocações à ilha de São Miguel (integrada na Presidência Aberta de Mário Soares), a Espanha, a França e ao Brasil, onde é homenageada. O Grupo de teatro «A Comuna» estreia em Outubro a sua peça de teatro A Pécora.
* 1990 - Publica Sonetos Românticos (poesia). A 17 de Março casa com Dórdio Guimarães, amigo de sempre. Viaja pela Galiza, onde profere diversas conferências.
* 1991 - Natália Correia recebe o Grande Prémio da Poesia A.P.E. pela publicação de Sonetos Românticos, sendo condecorada pelo Presidente Mário Soares com a Ordem da Liberdade (Grande Oficial). Efectua deslocações aos Açores, a Macau e a Bruxelas, onde participa na Europália dedicada a Portugal. deixa de ser deputada à Assembleia da República.
* 1992 - Publica As Núpcias (romance). Desloca-se de novo aos Açores para dar conferências. Juntamente com outros escritores, cria a Frente Nacional para a Defesa da Cultura.
* 1993 - Em Fevereiro efectua a sua última viagem - neste caso a Marrocos (Rabat), onde participa num Encontro Luso-Marroquino de Cooperação. Depois de ter estado na noite de 15 de Março no «Botequim», acompanhada de Dórdio de Guimarães, Natália Correia morre na sua casa de Lisboa na madrugada de 16 de Março. Nesse mesmo ano o Círculo de Leitores publica a sua obra poética completa em dois volumes (O Sol nas Noites e o Luar nos Dias).
* 1994 - O Círculo de Leitores publica o volume Retrato de Natália Correia.

Bibliografia activa
* Grandes Aventuras de um Pequeno Herói (romance infantil), 1945
* Anoiteceu no Bairro (romance), 1946 ; 2004
* Rio de Nuvens (poesia), 1947
* Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à América (viagens), 1951 ; 2002
* Sucubina ou a Teoria do Chapéu (teatro), em colab. com Manuel de Lima, 1952
* Poemas (poesia), 1955
* Dimensão Encontrada (poesia), 1957
* O Progresso de Édipo (poema dramático), 1957
* Passaporte (poesia), 1958
* Poesia de Arte e Realismo Poético (ensaio), 1959
* Comunicação (poema dramático), 1959
* Cântico do País Emerso (poesia), 1961
* A Questão Académica de 1907 (ensaio), 1962
* Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos cancioneiros medievais à actualidade (Antologia), 1965 ; 2000
* O Homúnculo, tragédia jocosa (teatro), 1965
* Mátria (Poesia), 1967
* A Madona (Romance), 1968 ; 2000
* O Encoberto (Teatro), 1969 ; 1977
* O Vinho e a Lira (Poesia), 1969
* Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (Antologia), 1970 ; 1998
* As Maçãs de Orestes (Poesia), 1970
* Trovas de D. Dinis, [Trobas d'el Rey D. Denis] (Poesia), 1970
* A Mosca Iluminada (Poesia), 1972
* O Surrealismo na Poesia Portuguesa (Antologia), 1973 ; 2002
* A Mulher, antologia poética (Antologia), 1973
* O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (Poesia), 1973
* Uma Estátua para Herodes (Ensaio), 1974
* Poemas a Rebate, (poemas censurados de livros anteriores) (poesia), 1975
* Epístola aos Iamitas (poesia), 1976
* Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975) (Diário), 1978 ; 2003
* O Dilúvio e a Pomba (poesia), 1979
* Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (teatro), 1981 ; 1991
* Antologia de Poesia do Período Barroco (antologia), 1982
* Notas para uma Introdução às Cantigas de Escárnio e de Mal-Dizer Galego-Portuguesas (ensaio), 1982
* A Ilha de Sam Nunca: atlantismo e insularidade na poesia de António de Sousa (antologia), 1982
* A Ilha de Circe (romance), 1983 ; 2001
* A Pécora, peça escrita em 1967 (teatro), 1983 ; 1990
* O Armistício (poesia), 1985
* Onde está o Menino Jesus? (contos), 1987
* Somos Todos Hispanos (ensaio), 1988 ; 2003
* Sonetos Românticos (poesia), 1990 ; 1991
* As Núpcias (romance), 1992
* O Sol nas Noites e o Luar nos Dias (poesia completa), 1993 ; 2000
* Memória da Sombra, versos para esculturas de António Matos (poesia), 1993
* D. João e Julieta, peça escrita em 1959 (teatro), 1999
* A Ibericidade na Dramaturgia Portuguesa (ensaio), 2000
* Breve História da Mulher e outros escritos (antologia de textos de imprensa), 2003
* A Estrela de Cada Um (antologia de textos de imprensa), 2004

Apontamentos poéticos
1 -
Em 1966 é condenada a três anos de cadeia – com pena suspensa – pela publicação da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica. O livro foi editado em 1966, pela Afrodite, com selecção, prefácio e notas de sua autoria.

“A Natália tinha preparado um texto – A Defesa do Poeta – para ler no tribunal [Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de tenebrosa memória(…)]. Mas o Manuel João Palma Carlos, advogado dela, disse-lhe que não o fizesse. É claro que os livreiros não podiam ter um único exemplar do livro [Poesia Erótica e Satírica]. Nessa altura, tive dezenas de exemplares escondidos em minha casa, e nem o meu marido sabia disso. O Fernando Ribeiro de Mello vinha cá de vez em quando buscar alguns.”

A defesa do poeta

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em criança que salvo
do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e Sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

2 -
João Morgado, Deputado do CDS disse na Assembleia da Republica, no Dia 3 de Abril de 1982, no debate sobre a Despenalização do Aborto, assim:

«O acto sexual é para ter filhos»

A resposta de Natália Correia, Deputada, disse como resposta e em poema, o a seguir descrito que fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção!
Foi publicado depois, pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:

“Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -

Uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”

(Natália Correia - 3 de Abril de 1982)

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