12/10/2011

TOMÁS VASQUES


  

O Presidente da República chega sempre atrasado…

Na actual situação, um governo que se debate com o problema de não ter um ministro da Economia é meio caminho para a desgraça


O Presidente da República, no cumprimento da tradição, discursou nos Paços do Concelho de Lisboa, no aniversário da implantação da República. Do discurso retêm-se duas notas relevantes, talvez proporcionadas pela contemplação que a visita aos Açores lhe permitiu. Disse desta vez Cavaco Silva que a situação que vivemos “irá exigir grandes sacrifícios” aos portugueses, “provavelmente os maiores que esta geração conheceu”. Apanhou tarde, como sempre, o fio da meada. Sabiam os portugueses – no mínimo, os menos distraídos – que iria ser assim. Para não ir mais longe, pelo menos, desde que o anterior primeiro-ministro, José Sócrates, regressou de Bruxelas, onde foi receber instruções, a 9 de Maio de 2010, com o PEC 2 na bagagem. O Presidente da República, nessa altura, não acreditou nos maus ventos que vinham da Europa. Não acreditou (não viu ou não quis ver) na dimensão da crise europeia, nem acreditou que tinha chegado o momento de vivermos à medida da riqueza por nós produzida. E por isso, quase um ano depois, quando tomou posse para um segundo mandato, a 9 de Março deste ano, ainda num registo completamente desfasado da situação que se vivia, proferiu a badalada frase: “Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.” Agora, quando já vamos no PEC 7, Cavaco Silva mudou a agulha e corrigiu a sua visão sobre a necessidade de exigir mais sacrifícios aos portugueses, como já antes tinha corrigido o que pensava sobre as consequências no nosso país da crise europeia ou sobre as agências de notação. Depois de 5 de Junho, pela primeira vez, começou a temer o fracasso do Euro ou a propor, como salvação, a intervenção do BCE para apoiar países em dificuldades, temas afastados da sua agenda política até há bem pouco tempo. Diz o ditado popular que mais vale tarde do que nunca, mas quando o supremo magistrado da Nação é um dos últimos a ver o que está à sua volta é porque não estamos entregues a boas mãos.

A segunda nota relevante no discurso do Presidente prende-se com a sua súbita preocupação com o comportamento da economia portuguesa. Já antes, numa entrevista televisiva, anunciara a convocação de um Conselho de Estado para se debruçar sobre a matéria. Na quarta-feira, na Praça do Município, voltou ao tema, comunicando aos portugueses esta sua nova preocupação, ao mesmo tempo que enviava um recado ao governo. Cavaco Silva, aqui, também chegou atrasado.

Primeiro, porque meio mundo anda a dizer, há algum tempo, que as medidas até agora postas em prática pelo governo conduzem a uma profunda e prolongada recessão da qual dificilmente sairemos sem mais ajuda externa; segundo, desde muito cedo se percebeu que o governo não tem um ministro da Economia. Desde a tomada de posse do governo, Álvaro Santos Pereira passou o seu precioso tempo a vasculhar os gastos do anterior governo com motoristas e mordomias do Ministério, transmitindo a ideia que não sabia ao certo o que fazer no desempenho das suas funções. Conseguiu, com isso, proporcionar à comunicação social meia dúzia de notícias, que lhe devem ter inchado o peito, sem perceber que esse afã se desfazia na espuma dos dias, tal como ele se desfaz na espuma deste governo. Criticado por todos os lados, mesmo no interior dos partidos da coligação, procura agora mostrar trabalho. No entanto, a sua inépcia ficou ainda mais patente na sexta-feira, numa comissão parlamentar, onde foi apresentar aos deputados, a seu pedido, o plano estratégico de transportes, o qual ainda não foi aprovado em Conselho de Ministros.. Na actual situação, um governo que se debate com o problema de não ter um ministro da Economia é meio caminho para a desgraça. Até Cavaco Silva, que chega sempre atrasado ao que se passa, já deu por isso!


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10/10/11

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