08/10/2011

MÁRIO JORGE CARVALHO




Teoria da conspiração

Pelo-me por uma boa teoria da conspiração. Confesso que desde muito novo adoro ver construir - muitas das vezes sem nada que realmente o sustente! - um raciocínio lógico a justificar ou a rebater um facto ou uma ideia do establishment que aparenta comandar este mundo. Vi uma boa meia dúzia de vezes o hilariante WAG the DOG com os monstros Dustin Hoffman e Robert de Niro - e se me convidarem para o rever uma vez mais, não hesito!

A minha primeira aproximação (que ainda dura hoje) à teoria da conspiração foi a morte de Kennedy; bem, depois veio a queda do Nixon às mãos de dois ingénuos rapazes que julgavam estar a descobrir alguma coisa por eles próprios; todos os episódios ocorridos em Portugal durante 1961 e 1962; o desaparecimento do Bolama; o desmembramento calculado e dirigido do nosso então império; a participação (ou não) do Rei de España no 23F; a subida e caída vertiginosa de Mário Conde, de la Rosa e dos primos Alberto, também em Espanha; aquele ainda não convenientemente explicado e obscuro acidente de Diana de Gales; o trágico 9-11 (talvez o mais rebuscado caso alguma vez vindo a público) e, finalmente, o logro inconcebível  que esteve por detrás da invasão do Iraque.
Nós temos um tradicional fabriqueiro da teoria da conspiração - Marcelo Rebelo de Sousa - que, por isso mesmo, parece ser o único que sabe, desde há muito, que nunca será Primeiro-Ministro ou Presidente da República. Depois, temos os dois suspeitos do costume, à moda do final de Casablanca, que ninguém verdadeiramente sabe o que fazem nestas matérias - Nuno Rogeiro e Jaime Nogueira Pinto - que, com inteligência e muito saber, conseguem por vezes criar uma teoria política sobre evidências nem sempre domináveis pelo comum dos mortais. Excelentes!
De há umas semanas a esta parte renasceu nas redes sociais uma actualizada teoria da conspiração acerca do ouro que eventualmente (não) existirá em Forte Knox. Esta questão do ouro não é nova - o que é novo é o possível envolvimento de DSK (ex-director geral do FMI) na questão, segundo a qual ele se prepararia para tornar público o logro das reservas dos EUA, o que determinou a montagem pelos serviços secretos de toda aquela cena de alcofa em que se viu envolvido.
"Si nom e vero ... e bene trovato!"
Já aqui expus por algumas vezes o que penso sobre o comando do mundo: não me repugna nada que haja num local secreto qualquer um supercomputador com todos os dados possíveis e imagináveis dos líderes e candidatos a líderes políticos nos cento e noventa e tal países que pagam contribuição para a ONU. Assim, não será difícil trabalhar até à exaustão os cenários prospectivos de evolução que incluam todas as diferentes probabilidades de ocorrência - desde o tsunami até à revolução, passando pelos "crashes" financeiros - condicionantes das diversas conjunturas. A partir daí e novamente com o uso da varinha mágica (acho o nome totalmente apropriado), sairão as (poucas) folhas A4 que as Trilaterais deste mundo ou o grupo reduzido de fundadores daquela feira de vaidades em Davos têm acesso, depois de pagarem a anuidade normal de $ 100 000 000 (sei lá, o número foi atirado à sorte e até me parece pouco!). Acham isto irrealista? Então deixem de pensar no OGE português e respectivo deficit e saibam que as disponibilidades líquidas em fundo de maneio ("cash") da Apple ultrapassam as dos próprios EUA, ao redor de setenta mil milhões de euros. E agora, façamos o mesmo exercício para as restantes noventa e nove maiores empresas do mundo e constate-se o que é uma evidência: o poder incomensurável que um grupo de não mais de duas ou três mil pessoas deste mundo detêm é realmente assustador e dá direito a sustentar todas as teorias da conspiração - e não enchem mais do que o novíssimo anfiteatro da IURD.
E não me venham falar nos rapazitos dos fundos - coitados, a verem cada dia os seus bónus a baixarem, baixarem! - porque a sua margem de decisão está obviamente muito controlada e sempre sob supervisão de quem, ao fim e ao cabo, os financia e injecta os meios financeiros de que necessitam.
Por tudo isto, de facto, há quem considere todos os políticos no geral como vulgaríssimas e descartáveis marionetas na mão dos verdadeiros detentores do poder no mundo, que ninguém sabe (senão eles próprios) quem são e nunca apareceram na "Hola" ou na "TV Guia" ...
Vem tudo isto a propósito da recente "cumbre" entre a Alemã corcunda e o galã Francês, onde, num par de horas, decidiram sozinhos, e a borrifarem-se para todos os outros vinte e cinco, o que vai ser a Europa daqui para a frente. Mas desculpem lá ... alguém no seu perfeito juízo acredita naquilo? Dois exemplos acabados de políticos rasqueiros, sem garra nem qualidade, encontram-se de repente e por aditivos de inteligência que ninguém lhes reconhece, a tal solução definitiva, a porção mágica asterixiana que vai levar a Europa a bom porto! Ora, ora. Aqui vai, portanto, a minha teoria da conspiração:
Desde há muito que a parte europeia dos tais senhores do mundo chegou à conclusão de que ou se caminhava definitivamente para uma solução federalista ou então não valia a pena continuar a construir a união europeia e o euro - e as votações nacionais para o Tratado de Lisboa não auguraram nada de bom a esse respeito. Havia, entretanto, um óbice a ultrapassar: os coitados dos eleitores não queriam, em particular os que tinham uma História e uma Cultura próprias para defender. Meteram tudo isso no tal supercomputador e ele chegou à conclusão de que a solução estaria no aproveitar de uma crise financeira que aconteceria, fatalmente, nos EUA, a partir de 2008, com o objectivo de criar o "major problem" para a administração Obama - o tipo que julgou ser possível fazer política sem dependências. Só que havia um outro problema: como transformar uma questão localizada de índole financeira numa gigantesca depressão económica ao nível global, com reflexos mesmo na própria soberania dos Estados? Fizeram a pergunta à máquina e a resposta foi imediata: façam-se de burros e deixem cair o Leman Brothers. E assim fizeram. O resto é um obrigatório enredo de série B encomendada ao Dustin Hoffman lá do sítio que termina com as ordens agora enviadas por email aos tais seus empregados em França e na Alemanha. Como é óbvio, os burocratas de Bruxelas estavam todos de férias na Comporta e Fortaleza e nem sequer deram conta de nada - ou melhor, Ricardo Salgado que, embora não pertença ao grupo tem bons contactos lá dentro, ainda lhes passou, horas antes e a correr, uma cópia resumida do memorando de entendimento para não fazerem fraca figura perante a imprensa.
Que tal, gostaram? "Si nom é vero" ...


IN "VIDA ECONÓMICA"
30/09/11
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