20/10/2011

JORGE GABRIEL


Ultimato
JÁ ESTÁ

Custa a qualquer cidadão, mesmo a um privilegiado como eu, passar ao lado das anunciadas medidas de austeridade. Vinha eu lançado para defender a minha recente causa, o golfe, depois de ter a vantagem de jogar no Pro Am do Portugal Masters, e esbarrarei no bom senso.

Ouvir o primeiro-ministro de Portugal dizer que não há financiamento garantido para professores e polícias, para o funcionamento dos hospitais, das escolas, do país, e que para que tal é necessário retirar dois ordenados aos funcionários públicos, entre outros agravamentos que, suspeito, ainda virão, quando esmiuçarmos o orçamento para 2012, e com efeitos em 2013, quiçá por aí adiante, amarrota qualquer um. Por muito otimista que seja.

Não que estas restrições causem grande surpresa. O que dói é entender que se assobiou para o ar durante anos, passeando um gabarito, ostentando uma galhardia fictícia, disparatando verbas com megalómanas obras, e pseudo organizações vitais para o desenvolvimento de Portugal, onde também cabem as mais diversas fundações, com propósitos ainda hoje por esclarecer.

Onde cabe o desporto no meio desta desgraça? E desgraça não é expressão vil. Preparemo-nos para retornar à prática desportiva amadora, mesmo na alta competição. Atletas a trabalhar durante o dia, e a treinar à noite, sem direito a subsídios, apenas pelo orgulho de representarem o clube do seu bairro, ou o clube do seu coração.

Sejamos sérios também neste particular. Acabe-se com os “incentivos” pagos, por fora, a pseudo amadores. Tenha-se a coragem para acabar com os subsídios pagos a profissionais do desporto quando representam a Seleção Nacional. E não me escondo. Falo principalmente do futebol. Ninguém merecia aquela abúlica exibição na Dinamarca.

Mão no peito a cantar o hino, representando a equipa lusa, com a federação a ter de pagar prémios para este efeito, a quem ganha uma fortuna nos seus clubes, e a servir-se dos grandes palcos que estes jogos proporcionam para obter novos contratos de publicidade, ou ser assediado para outros emblemas, soa a pornográfico face ao que aí vem. Pegue-se nesse dinheiro e apoie-se a formação de atletas. Diminua-se o preço das inscrições dos jogadores federados, seguros incluídos, porque a prática desportiva constituirá um dos escapes para as gerações recentes, evitando-se alargar o número de jovens delinquentes.

Estou, através deste favorecido postigo, a oferecer-me publicamente para colaborar com a sociedade civil, associações desportivas, entidades sérias em prol da saúde publica – mente sã, em corpo são – no que estiver ao meu alcance, para garantir que as próximas gerações mantenham o direito de praticar uma atividade física. Acredito que juntando muitos como eu, por muito pouco que constituam os nossos méritos, seremos úteis aos que deles necessitarem. Estes são tempos de ação, e estão muito além de serem compreendidos como um ultimato. É um imperativo para quem é patriota, para quem gosta de Portugal, para quem acredita no futuro.

IN "RECORD"
14/10/11
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