30/10/2011



ESTA SEMANA NO
"VIDA ECONÓMICA"


Rui Aires de Queiroz, 
autor de um livro sobre poupança, 
dá o alerta
"Portugueses desperdiçam dinheiro no consumo imediato em vez de investirem no seu crescimento"

"Está no nosso sangue olhar para o nosso 'prazer' imediato, ou seja, gastar dinheiro em consumo, em vez de investirmos no nosso crescimento". As palavras duras são do autor de um livro sobre poupança, Rui Aires de Queiroz. "Grandes vidas - viva melhor gastando menos" é o título da obra editada pela Marcador.

O especialista explica à VE que o desperdício dos portugueses reside no seu próprio paradigma de vida, aquele que nos foi passado pelos nossos pais e avós. Questionado pela VE sobre as áreas, onde mais precisamos de poupar, a resposta surge pronta: "no ego". Rui Aires de Queiroz insiste na ideia que grande parte dos problemas que vivemos, atualmente, reside nos nossos hábitos culturais, na forma como nos comportamos. "Os portugueses gostam muito de se mostrar em sociedade, de mostrar o seu sucesso", destaca. E acrescenta: "O desperdício que nós temos é, principalmente, no supérfluo, no telemóvel de última geração, no carro que mostra o nosso status, na roupa que tem 'aquela' etiqueta que tantos nos vai fazer subir na escala social." Os resultados a nível pessoal são negativos, mas extrapolados para uma sociedade inteira são ainda mais desastrosos.
É para isto que nos alerta o autor ao referir que "esta postura gera, diretamente, enorme despesismo nas organizações, despesismo esse que é um atentado às pessoas que o fazem, aos seus filhos, familiares, vizinhos, sendo que, no final, ninguém ganha com esta postura". E o aviso chega também às empresas quando estas, num ato de compra, preferem adquirir determinado bem a um conhecido, mesmo, quando ele é mais caro. "Além de tudo, esta postura gera uma ineficiência nas empresas, em Portugal, que acabam por se preocupar mais em ajudar os amigos do que a serem, de fato, eficientes naquilo que fazem", revela. No final, as organizações perdem competitividade, restando-lhes "'chorar' perante o Estado" quando percebem que os outros já estão à sua frente, diz Rui Aires de Queiroz.

Há sempre margem para poupar

Para o autor não há margem para dúvidas: há sempre margem para poupar, mesmo em tempos de crise, mesmo, para pessoas com baixos rendimentos. "Consigo dar a qualquer pessoa, com qualquer tipo de rendimentos, dicas úteis que lhe permitam reduzir a sua despesa, até a pessoas que ganham abaixo do salário mínimo." O problema, considera, está, uma vez mais, naquilo a que nos habituámos ao longo do tempo. "As pessoas têm grandes dificuldades em se ajustarem para baixo, em perder aquilo que foi dado como adquirido e muitas vezes negam que o tenham de fazer", explica Rui Aires de Queiroz.
Ainda assim, é sempre possível gastar menos em áreas como a água, supermercado, televisão paga. Aqui, o autor questiona, mesmo, as pessoas sobre a necessidade de usufruirem deste serviço. "Será que a TV paga é fundamental na sua felicidade?" O mesmo tipo de questões se aplicam a outros gastos, como por exemplo, a casa, o carro ou os tempos livres. Se, no primeiro e segundo casos, podemos sempre optar por uma casa ou carro mais pequeno, por uma habitação mais próxima do emprego ou pelos transportes públicos, no último caso, a escolha pode ir para algo que é gratuito. Sendo que, em todo este processo, é sempre importante o planeamento. Para uma família em plenas dificuldades, revela o autor, o planeamento deverá ser diário, cêntimo a cêntimo. Já se o objetivo é atingir uma poupança de 20% a 40% do rendimento mensal, então, aí, as famílias poderão relaxar um pouco mais e optarem por um orçamento mensal, bem como um controlo mensal.
Tudo isto será mais fácil, contudo, se as pessoas interiorizarem, de facto, o conceito da poupança. De outra forma, vamos continuar, como até aqui, a hipotecar o nosso futuro. "O meu grande objetivo com este livro é despoletar o 'momento de clarividência' de cada um de nós para uma vivência de poupança, para aquele segundo em que nos consciencializamos para o facto de termos de mudar, porque isso é melhor para nós e para quem nos rodeia", remata.


* Os portugueses seguem o mau exemplo dos esbanjadores que os governam.

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