09/09/2011


HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"

Falta de pílulas aumenta abortos

O número de abortos legais e clandestinos irá aumentar em Portugal devido à maior dificuldade de acesso às pílulas contraceptivas, que vão perder a comparticipação a partir de Outubro. O alerta é da Associação para o Planeamento da Família (APF) e da Ordem dos Médicos. O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) reforça as preocupações, ao sublinhar que a situação será agravada porque ocorrem "frequentes rupturas de stock de contraceptivos nos centros de saúde".

Teresa Ventura, do Colégio da Especialidade de Obstetrícia da Ordem dos Médicos, sublinha que "os contraceptivos correspondem às necessidades básicas e um obstáculo ao seu acesso pode redundar em gravidezes indesejadas e em interrupções voluntárias da gravidez que podem resultar em septicemias, com os custos inerentes para o Estado".

Duarte Vilar, director executivo da APF, afirmou ao CM que "poderá haver um aumento de abortos". "Há dúvidas de que a oferta gratuita dos contraceptivos nos centros de saúde possa ter capacidade de resposta para um aumento da procura". Segundo Duarte Vilar, a descomparticipação "é uma medida socialmente injusta porque vai penalizar os mais desfavorecidos".

Guadalupe Simões, coordenadora nacional do SEP, afirmou ao CM que vê com "muita preocupação" os cortes com a comparticipação das vacinas e outros remédios, pois vão aumentar os casos de doença "e o número de doentes nas unidades, já carenciadas de profissionais".

O director-geral da Saúde, Francisco George, atenua as preocupações: "Os serviços públicos têm de garantir o fornecimento dos medicamentos". Confrontado com os casos de ruptura nas unidades, afirma que "estão previstos reforços no programa do planeamento familiar, segundo as necessidades". Uma garantia que não tranquiliza Carlos Braga, do Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos. "Muitas pessoas vão deixar de adquirir os medicamentos".

Elza Pais, antiga secretária de Estado para a Igualdade, considera que as medidas "vão introduzir recuos civilizacionais relativos no acesso das mulheres à saúde sexual e reprodutiva".


* Depois não venham dizer que a culpa é da Lei do Aborto como grosseiramente se diz.

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