24/08/2011

PEDRO TADEU



Crespo deixa-me triste 

                 mas Relvas assusta-me


Mário Crespo é um jornalista prestigiado. O director do Expresso, Ricardo Costa, também. Nunca trabalhei com qualquer um deles. Pelo que leio e vejo, há anos, formei uma opinião. Sobre o primeiro, tenho respeito profissional. Sobre o segundo, tenho admiração.

Costa co-assina uma notícia polémica sobre Crespo. A história, que confronta os dois jornalistas empregados de Francisco Pinto Balsemão, começou no site do semanário, quarta-feira, com um título taxativo: "Mário Crespo convidado pelo Governo para correspondente da RTP em Washington."

Vieram os desmentidos. O próprio Crespo, admitindo o gosto em voltar a desempenhar tal tarefa, começa por dizer ao jornal onde é colunista que "nenhuma proposta formal" lhe fora apresentada. Mais tarde, no espaço da SIC Notícias que edita, intervém para garantir que tal informação é "integralmente falsa". A administração da RTP, por seu lado, emite um comunicado onde informa que "não houve nenhuma tentativa de impor qualquer nome".

Sábado, o Expresso, na versão impressa, volta à carga: "Relvas defendeu Crespo em reunião" com o Conselho de Opinião da RTP. No dia seguinte, o presidente do dito Conselho precisa ao JN que foi durante "uma conversa informal com o ministro Miguel Relvas, para apresentar cumprimentos" e que "o ministro assinalou que Mário Crespo foi o único jornalista português a ter tido acreditação do departamento de Estado norte-americano", o que é interpretado, pelos vistos, como um elogio.

Mário Crespo, nos últimos anos, notabilizou-se por ser crítico do Governo de José Sócrates. Estava no seu direito, só tinha de respeitar regras básicas de conduta profissional. Não pode é esperar que qualquer nomeação sua que envolva o actual poder - mesmo indirectamente - não seja interpretada como um prémio por serviços prestados. Será uma injustiça factual, mas tal como nós jornalistas exigimos aos políticos comportamentos exemplares sobre hipotéticos conflitos de interesses - sempre com o argumento de "à mulher de César não basta ser séria, tem de parecê-lo" - não podemos exigir menos de nós próprios.
O que vai na consciência de Crespo será, no entanto, irrelevante para o País. Mas é relevante o que se passa na cabeça de Miguel Relvas, que sobre isto nada desmente ou confirma. Um ministro que, em encontro informal com pessoas que tutela, liberta elogios e críticas, com ar descontraído, sobre jornalistas que os seus interlocutores têm de avaliar, deixa-me muito assustado quanto ao que aí vem na comunicação social. Espero, sinceramente, não ter razão.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
23/08/11

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