18/08/2011

FRANCISCO MOITA FLORES


Muros da vergonha

Neste fim-de-semana fez 50 anos que começou a ser construído o Muro de Berlim. Apelidado por muitos como o muro da vergonha, não resistiu à desagregação dos regimes ditos socialistas e há cerca de duas décadas desmoronou-se graças à força impetuosa de um povo sedento de liberdade e incapaz de aturar mais tirania.
Quando se deu a queda histórica desse amontoado de betão e arame farpado que separava dois modos de vida completamente diferentes, realizei em Lisboa uma conferência sobre violência onde defendi que a queda do Muro era um grande passo no sentido do respeito pelos direitos humanos.

Todavia, acreditava que a encenação capitalista, que euforicamente aplaudia o fim simbólico das tiranias de Leste, iria levar com as pedras do desmoronamento nas próprias cabeças.

Aquilo que hoje está a acontecer à chamada União Europeia não é mais do que isso. Não houve capacidade democrática para entender as razões que levavam os povos a estarem saturados da Cortina de Ferro. Com excepção de uma geração de políticos com memória, que percebendo os sensíveis equilíbrios entre direitos de cidadania e desenvolvimento económico sonharam num espaço comum, sem fronteiras, sem barreiras linguísticas, ambicionando a paz e a justiça social colectiva. Não passou de um sonho que se desmoronou, dando origem a esta política do salve-se quem puder.

Não admira, pois, as manifestações de violência, de pós-insurreição que cruzam várias cidades europeias contra a ditadura do capitalismo selvagem. Sem rosto mas tão cruel como aquele que se escondia para lá do Muro de Berlim.

Como sublinha o antigo bispo de Setúbal D. Manuel Martins, aquilo que nos espera são dificuldades e mais dificuldades para salvar essa corrente humana neoliberal que nos amordaça e multiplica a fome e o desespero.

Que ninguém se espante se a violência continuar a crescer. Para gente que se formou num espírito de liberdade da igualdade e da fraternidade, qualquer tirania é insuportável com ou sem Muro de Berlim. Com ou sem rosto. É isso pessoal.

IN "CORREIO DA MANHÃ"
14/08/11


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