21/08/2011

ANA SOUSA DIAS


Optimismo e lógica


A rocha estava pronta para nos cair em cima mas aqueles que a empurravam não tiveram a amabilidade de tentar evitar a derrocada ou de nos avisar do perigo.
Em Junho, uma revista norte-americana publicou um trabalho sobre a propensão humana para o optimismo. É um tema que as neurociências e as ciências sociais investigam, procurando explicar a predisposição para acreditarmos que o futuro será melhor do que o presente.
O optimismo seria indispensável à humanidade, defendem. Não estaríamos aqui se os nossos antepassados não tivessem esperança no futuro, não nos levantaríamos de manhã se não pensássemos que os problemas podem resolver-se. Levada ao extremo, é essa a lógica que nos faz apostar no euromilhões, sabendo como é ínfima a probabilidade de ganhar.
Esta tese explica muito do comportamento humano ao longo da História, mas não explica as irresponsabilidades com que nos deaparamos no dia-a-dia.
Por exemplo, espanta-me que haja quem ignore avisos de perigo iminente, como acontece nas praias cujas arribas estão em risco de derrocada.
Usando o raciocínio oposto ao do euromilhões, é como se pensassem que a probabilidade de isso acontecer naquele preciso momento é tão baixa que não é possível.
Mas espanta-me ainda mais a informação que hoje o JN dá sobreo elevado número de contratações que os municípios da região Norte têm feito nos últimos anos, quando todos pensávamos que as admissões estavam congeladas. E não percebo que a taxa de absentismo seja aí muito mais elevada do que no resto do país. Todas as pessoas eram necessárias ou entraram muitos amigos e colegas de partido que agora têm outras coisas para fazer?
A gestão de uma câmara deve ter regras que nos tranquilizem enquanto cidadãos. Uma equipa eleita tem de prestar contas, e não apenas quando se submete ao voto popular, tal como quem gere mal uma empresa pública deve ser responsabilizado pelos efeitos que causou.
Talvez tenha sido irracional o percurso que nos trouxe até à crise em que vivemos, com a "troika" no papel do pedregulho que inexoravelmente obedece à lei da gravidade.
A rocha estava pronta a cair-nos em cima mas aqueles que a empuravam não tiveram a amabilidade de tentar evitar a derrocada ou de nos avisar do perigo. Agora estão no alto da arriba, a apontar-nos o dedo e a multar-nos a torto e a direito, como se não tivessem responsabilidade.
Ter esperança é uma característica humana, mas também a indignação. Não podemos cruzar os braços à espera de que quem nos governa, na câmara, no país, na Europa, nas agências de rating, venha dizer-nos que afinal estávamos a viver acima das nossas possibilidades. 

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
18/08/11

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