09/06/2011


Famílias portuguesas põem travões 
recorde na factura do supermercado


Ao contrário da recessão de 2009, as famílias portuguesas não estão apenas a cortar nos bens duradouros: estão já cortar no consumo corrente.



Os dados do INE, hoje revelados, confirmam que a economia portuguesa entrou em recessão no início de 2011, em larga medida devido ao comportamento do consumo que sofreu, entre Janeiro e Março, a maior queda (2,6%) desde, pelo menos, 1996.
Enquanto a pressão dos mercados financeiros levou Estado a fazer cortes recorde nos gastos (- 4,3%), o “mix” de salários mais baixos, e preços e impostos mais altos forçou também as famílias a pôr travões a fundo no consumo (-2,1%).
Olhando mais de perto o comportamento dos gastos das famílias, sobressai a queda nos bens duradouros (automóveis e outros): 9,8%, quando ainda no trimestre anterior tinham subido 8,8%.

O INE chama, no entanto, a atenção para o facto de os dados relativos à recta final de 2010 provavelmente terem sido inflacionados por uma corrida à compra de automóveis, em antecipação do aumento da taxa normal de IVA e do Imposto Sobre Veículos, que entrou em vigor a partir do início de 2011, assim como do ao fim do incentivo fiscal ao abate de veículos em fim de vida para a aquisição de veículos novos não exclusivamente eléctricos.
Por outro lado, ainda que expressiva, a queda de 9,8% nos gastos em bens duradouros foi amplamente superada num passado recente: nos três primeiros trimestres de 2009 – quando Portugal vivia a última recessão - caíram sempre mais de 10% e, no primeiro trimestre, o recuo foi mesmo de 20%.
Bem diferente face a 2009 é a circunstância de as famílias portuguesas estarem já a cortar no consumo corrente. As despesas em serviços e bens correntes (que não alimentares) caíram no primeiro trimestre 1,7% - o maior recuo desde, pelo menos, 1996. Já a “factura do supermercado” – o consumo de bens alimentares – aumentou, mas apenas 0,4%, o que traduz também o valor mais baixo desde, pelo menos, 1996.

Estes dados acompanham a segunda estimativa do INE, que hoje reviu a evolução do PIB, apontando agora para uma quebra menor no primeiro trimestre, de 0,6% em vez de 0,7%, quer em cadeira quer em termos homólogos. Ainda assim, estes números confirmam que Portugal entrou em recessão no primeiro trimestre, ao acumular dois trimestres consecutivos de queda em cadeia do PIB.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
09/06/11

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