29/06/2011



Ana Hatherly


A matéria das palavras
 
Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.

Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.

Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.

Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.

Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma  
perfeição especialista em fracassos.

Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.


IN:
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003

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