30/05/2011

FERNANDO PALOURO

                                                


 Revólver 
     de trazer por casa


Quase nunca o poder político convive à boa paz com a cultura. Adivinha-se sempre esse indisfarçável desconforto, às vezes ódiozinho de estimação – lembremo-nos que Goebels que não se coíbia de dizer que puxava logo pela pistola quando ouvia falar em cultura. É certo que no universo dos Estados totalitários, como era o caso, ou noutros que até hoje nunca deixaram de perseguir o acto criador, o futuro da cultura e dos seus produtores e criadores era, muitas vezes, a morte. Em Portugal, durante a ditadura, também foi brutalmente perseguida com o labéu de ser subversiva.

Percebe-se: a cultura é sempre uma forma de consciência crítica e uma das suas naturezas é estar contra. Isto cria, muitas vezes, contradições insanáveis. Em Portugal, na roda da política, foi sempre questão subalterna. Guterres deu-lhe visibilidade, criou-se o Ministério da Cultura e passou a ter maiores dotações no Orçamento. Antes disso, todos se lembram, a dotação orçamental para esta área era menor, dizia o maestro António Victorino de Almeida, do que a da Ópera de Viena.

Agora, vem o putativo candidato a Primeiro-Ministro, Passos Coelho, dizer que se for governo acabará com o Ministério da Cultura. Não sei se ele puxará do revólver de trazer por casa ou se diz isso por alcance populista, sabido como num país inculto atacar a cultura parece (nem sempre o que parece, é!) dar dividendos eleitorais.

O nosso mais recente Prémio Camões, Manuel António Pina, escrevia hoje na sua crónica do “JN”: “Parece que no seu afã de “Mudar Portugal”, Passos Coelho se prepara (tinha que começar por algum sítio) para, “se” o PSD ganhar as eleições, mudar o Ministério da Cultura do Palácio da Ajuda para uma arrecadação no n..º 4 da Rua da Imprensa à Estrela onde, longe dos olhos tutores da “troika”, se lhe dedicará pessoalmente”. E Manuel António Pina conclui: “Tantas vezes seduzida e abandonada, a Cultura encvontrou finalmente alguém que tomará conta dela “de forma sustentada” e a fará (programa dixit) “cumprir integralmente o seu potencial. “Se”..

IN "JORNAL DO FUNDÃO"
18/05/11

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