01/05/2011

21- ILUSTRES PORTUGUESES DE SEMPRE »»» vitorino magalhães godinho


 

 

Vitorino Magalhães Godinho
Nascimento 1918
Lisboa, Portugal
Morte 2011
Lisboa
Nacionalidade Portuguesa Flag of Portugal.svg
Influências
Escola/tradição Universidade de Lisboa, Universidade de Paris, Escola dos Annales e Universidade Nova de Lisboa
Principais interesses Filosofia
História
História de Portugal
Sociologia
Economia
Ensino
 


Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho (Lisboa, 9 de Junho de 1918 — Lisboa, 26 de Abril2011) foi considerado um dos mais notáveis académicos portugueses, sendo um dos nomes da corrente historiográfica que se começou a desenvolver em torno da "Revue des Annales" - Annales d'histoire économique et sociale (em português, Anais de História Econômica e Social), fomentada pelos historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre, então da Universidade de Estrasburgo. de
Foi Professor Catedrático da Universidade Nova de Lisboa, do Departamento de Sociologia da FCSH, sendo Doutor ès-Lettres pela Sorbonne, Faculdade de Letras da Universidade de Paris, Paris, França, país onde sedimentou grande parte da sua vida académica e científica. O seu nome académico identifica-se, em grande parte, com a Universidade Nova de Lisboa: o Professor Vitorino Magalhães Godinho foi um dos pioneiros das Ciências Sociais em Portugal e fundador da Sociologia da Nova. O seu espírito crítico, a sua atitude problematizadora, a sua capacidade de elaboração teórica constituíram-se como referência absoluta para a construção da instituição, onde existe uma fusão aprofundada entre a Historiografia e a Sociologia, muito na linha da segunda fase e da terceira fase da "Revue des Annales". O Professor Vitorino Magalhães Godinho é o académico português que melhor representa essa corrente historiográfica, muito próxima da Sociologia.

Biografia

Filho de Vitorino Henriques Godinho — oficial do Exército e político republicano — e de D. Maria José Vilhena Barbosa de Magalhães. Conclui os estudos secundários em Lisboa, frequentando os Liceus de Gil Vicente e de Pedro Nunes, licencia-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1940). Professor da Faculdade de Letras de Lisboa (19411944), investigador do Centre National de Recherches Scientifiques (1947–1960), Doutor ès-Lettres pela Faculdade de Letras da Universidade de Paris (1959), professor catedrático do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (19601962), Doutor honoris causa e professor na Faculté des Lettres et Sciences Humaines da Universidade de Clermont-Ferrand (19701974), professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e coordenador do departamento de Sociologia (19751988). Prix d’Histoire Maritime da Académie de Marine (1970) e Prémio Balzan (1991), sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras e da Royal Academy (Londres). Dirigiu várias colecções, nomeadamente nas Edições Cosmos, e fundou e dirige a Revista de História Económica e Social (1979). Foi ministro da Educação e Cultura dos segundo e terceiro governos provisórios, tendo tomado posse a 18 de Julho de 1974 e apresentado a sua demissão a 30 de Novembro do mesmo ano. Foi também Director da Biblioteca Nacional (1984).

Obra

Tendo começado os seus estudos pela Filosofia (Razão e História – Introdução a um problema, 1940; Esboço sobre alguns problemas da Lógica, 1943) cedo passou a interessar-se pela História. E de imediato inicia pesquisas sobre a História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Duas são as linhas de investigação inicial: um minucioso trabalho erudito sobre as fontes (Documentos para a História da Expansão Portuguesa, 1943–1956) a partir de uma problemática muito ampla (A Expansão Quatrocentista portuguesa, 1944) e uma tentativa de reconstituição das culturas e civilizações antes da chegada dos portugueses (História económica e social da Expansão Portuguesa, 1947; O "Mediterrâneo saariano" e as caravanas do ouro — séculos XI ao século XVI, 1956). Só assim, na conjugação destas duas linhas de trabalho, se conseguirá proceder à construção da história portuguesa e do seu impacte no Mundo nos séculos XV e XVI. Tendo prosseguido os seus trabalhos na École Pratique des Hautes Études em Paris — junto de Lucien Febvre, Fernand Braudel e Ernest Labrousse –, aí apresenta Prix et monnaies au Portugal: 1750–1850 (1955) e L’économie de l’empire portugais — XVème–XVIème siècles (1966), obra esta que foi tese de doutoramento (editada em português, com acrescentos, em 1963–1971, Os descobrimentos e a economia mundial, com edição definitiva em 1983–1984).
Integra a corrente historiográfica que se desenvolve em torno da "Revue des Annales" (Escola dos Annales). Destacou-se pela resistência à ditadura (o que lhe valeu por duas vezes o afastamento da universidade portuguesa) e também pela sua intervenção cívica em democracia, de que resultaram várias publicações: O Socialismo e o futuro da Península (1970), Portugal. A Pátria bloqueada e a responsabilidade da cidadania (1985). Apresentou propostas originais para reforma do sistema educativo português: Um rumo para a educação (1974).
Deve-se-lhe a actualização e a renovação dos estudos de história da expansão portuguesa numa perspectiva mundial. Partindo das reflexões e investigações de Oliveira Martins, Jaime Cortesão e Duarte Leite consegue ir muito mais longe e construir explicações muito enriquecedoras. A economia dos descobrimentos henriquinos (1962) e Os descobrimentos e a economia mundial revelam essa largueza de preocupações, mostrando como se entrelaçam e conjugam aspectos vários das disciplinas das ciências sociais na investigação histórica. Os Descobrimentos são o cadinho onde se forjam um tipo social novo – chamar-lhe-emos o cavaleiro-mercador? –, uma nova constelação social – o senhorio capitalista –, uma reestruturação dos laços político-económicos – o Estado nacional mercantilista-nobiliárquico. Velhas formas e velhas atitudes mentais vestem e enformam actividades jovens, exercendo-se em quadros geográficos dantes insuspeitados para onde se transpõem experiências e rotinas vindas de trás.De cerca de 1409 a cerca de 1475, a expansão portuguesa alterna entre as modalidades e feixes de objectivos vários. A um lado, uma política de conquistas territoriais pela «cruzada» contra o Islame maghrebino; a outro, a metódica devassa do oceano desconhecido para desenvolver os circuitos mercantis, e colonização dos arquipélagos ermos. Crise financeira da nobreza e necessidades de mercados, e escápulas da burguesia.O ouro do mundo negro como alvo dominante, mas também os escravos, as cores tintoriais, o trigo e o açúcar. Políticas ora acerbamente opostas ora em convergência. Forma-se assim um complexo económico-social de configuração geográfica bem desenhada: abrange o Noroeste africano? Marrocos, Saara e Sudão atlânticos, bem como as ilhas dos Açores, Madeira, Cabo Verde, Canárias.
Também no domínio da História de Portugal, moderna e contemporânea, escreveu estudos fundamentais e promoveu investigações que refizeram muitas temáticas: A estrutura da antiga sociedade portuguesa (1971), Mito e mercadoria, utopia e prática de navegar, séculos XIII–XVIII (1990). Igualmente se lhe deve a indicação de novos temas e novos problemas para investigações e dissertações que dirigiu, em especial durante o seu magistério na Universidade Nova de Lisboa.
Das suas lições de rigor erudito, de alargamento metodológico e da problematização das fontes como objecto cultural, de ensaio de quantificação e de cruzamento com as diferentes ciências sociais, de fundamentação teórica e de aplicação de uma visão histórica aos diferentes domínios do saber, de cidadania activa resultou uma notável renovação dos estudos de história em Portugal. Como escreveu numa das suas primeiras obras, "não é possível analisar os problemas da realidade portuguesa contemporânea sem os inserir na trama da evolução do nosso país, quer dizer, sem estudar as condições de formação do mundo em que vivemos, a génese da nossa cultura, da nossa sociedade, da estrutura político-económica de Portugal". Levando longe a sua proposta de que a história deve ser pensada na dialéctica da globalidade e de que a história é uma forma de pensamento, fundamenta uma visão da contemporaneidade muito rica e estimulante.
Vitorino Magalhães Godinho é, frequentemente, considerado um dos historiadores portugueses mais notáveis de sempre e dos que tem o maior número de títulos publicados, com um tipo de abordagem sociológica da Historiografia, próxima da pura Sociologia, visto que, durante a ditadura de Salazar, publicou vários livros de pura Sociologia, e é considerado, habitualmente, um das referências académicas e científicas mais relevantes do Departamento de Sociologia da FCSH, para além de ter sido o principal académico que configurou a estrutura do Departamento e também da FCSH, onde fez alguns discípulos e influenciou a investigação sociológica de vários docentes do Departamento, como Moisés Espírito Santo e David Justino.

Sobre ele, diz David Justino:
Hoje tive a honra inestimável de colaborar na apresentação do último livro de Vitorino Magalhães Godinho. Partilhei essa responsabilidade com o General Loureiro dos Santos e com o Sr. Presidente da Assembleia da República. Vitorino Henriques Godinho – Pátria e República (Edição da AR-D. Quixote) é a mais importante obra publicada sobre a história da I República portuguesa. Trata-se de uma biografia exemplar que combina a narrativa de grande erudição e rigor com uma visão profunda dos problemas da sociedade portuguesa.
O biografado, pai do autor, participou enquanto oficial de infantaria na Revolução de 5 de Outubro (uma descrição magistral!), foi deputado à Constituinte e ao Parlamento, participou na preparação do Corpo Expedicionário Português e integrou-o na sua 2.ª Divisão que combateu em La Lys. Posteriormente foi Adido Militar em Paris, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Ministro do Interior, tendo mais tarde assumido a Direcção-geral de Estatística do Ministério da Fazenda de onde foi saneado por Salazar.
Através deste percurso, Vitorino Magalhães Godinho escreve não só a biografia, mas faz uma nova história da República.
Do melhor que tenho lido.
Com 87 anos, VM Godinho deixa um legado científico, cultural e cívico, a um País que pouco lhe deu e muito lhe recusou. O seu querer, a sua paixão pelo ofício de historiador e pela sua Pátria, ainda podem aumentar esse legado. Aqueles que, como eu, tiveram o raro privilégio de partilhar os últimos 30 anos do seu trabalho, sabem o valor inestimável desse contributo.
Mário Soares refere-o "um cidadão exemplar. Um homem probo, de uma inteireza de carácter excepcional e de uma honestidade moral e intelectual invulgar. Tem uma obra que o classifica entre os maiores historiadores portugueses. A par de um Herculano, de um Oliveira Martins, de um Damião Peres, de um Paulo Merêa, ou de um Jaime Cortesão. Na juventude dos seus noventa anos, não pára de trabalhar. Tem ainda muito para fazer, como sempre, ao serviço de Portugal." O Professor Vitorino Magalhães Godinho é uma figura maior da investigação mundial sobre a Economia dos Descobrimentos. Não admira, por isso, que os seus textos mais significativos possuam uma pertinência e uma lucidez que atraem os estudiosos e quantos desejem, com seriedade e rigor, conhecer as condições económicas e sociais que marcaram a História mundial da primeira Globalização.
Em face deste percurso académico e científico invulgar, torna-se muito premente a publicação das obras completas de Vitorino Magalhães Godinho, de todos os seus textos, bem como a sua tradução para inglês, a fim de se solidificar, com maior consistência, a projecção internacional de um dos mais notáveis nome científicos portugueses de sempre.

WIKIPÉDIA

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