20/03/2011

JOÃO CARDOSO ROSAS

 
João Cardoso Rosas

     Que querem os jovens?



O que pretendem, afinal, os jovens promotores da “geração à rasca”, assim como os pais e avós que os apoiam? Segundo a maior parte dos comentadores, eles não sabem o que querem.

Mas não é essa a minha opinião. Embora a ideologia que tem presidido ao movimento "à rasca", antes e depois da manifestação da semana passada, seja difusa e mesmo confusa, aquilo que os jovens pretendem na prática é suficientemente claro.

Em primeiro lugar, pretendem segurança: ter a possibilidade de trabalhar sem medo do que lhes poderá acontecer no próximo mês ou no ano que vem, sair da dependência paterna, casar e ter filhos, etc. Fico estupefacto quando ouço e leio comentadores de tipo ‘blasé' (Sousa Tavares, Pacheco Pereira, etc.) que não compreendem estes objectivos simples e mesmo indispensáveis em qualquer sociedade decente.

Em segundo lugar, os jovens querem flexibilidade: abertura do mercado de trabalho a quem quer efectivamente trabalhar, possibilidade de mudar e fazer coisas diferentes ao longo da vida, em vez de ficar o tempo todo preso ao mesmo emprego e ao mesmo lugar. Esta nova geração é muito mais flexível do que a minha, ou do que foi a dos comentadores ‘blasés', e pretende voar mais alto.

Infelizmente, os partidos políticos portugueses só lhes querem oferecer uma coisa, ou a outra. A esquerda, em particular a extrema-esquerda, apenas quer segurança e nada de flexibilidade. Por isso rejeita qualquer evolução mais arrojada nas relações laborais. Apesar de tudo, essa posição tem alguma razão de ser face àquilo que oferece a direita. Esta pretende a máxima precariedade dos vínculos laborais, a diminuição drástica da cobertura do risco de desemprego, enfim, um desequilíbrio extremo da relação de forças a favor dos empregadores e contra os trabalhadores.

O desafio para os parceiros sociais consiste em romper com esta alternativa entre segurança e flexibilidade, interiorizando que a primeira leva ao imobilismo e ao empobrecimento e a segunda à injustiça e à instabilidade social. Foi precisamente nesse sentido que a social-democracia europeia, especialmente na Holanda e na Dinamarca, lançou há muito a ideia e a prática da flexi-segurança, ou flexigurança. Esta exige que os trabalhadores aceitem a flexibilização dos vínculos laborais, mas implica a contribuição dos empregadores para a cobertura do risco de desemprego e, especialmente, para o desenvolvimento das políticas activas de criação de emprego (bem mais importantes do que o TGV). Para podermos dar uma resposta à frustração dos jovens - que é também a do país em geral - temos de aprender a conjugar segurança com flexibilidade. Este será um dos grandes desafios do próximo Governo. O actual já nada pode fazer.

PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
18/03/11

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