24/01/2011

JOÃO MARCELINO

JOÃO MARCELINO
Uma campanha perdida
1. Acabamos de assistir à mais desinteressante campanha eleitoral de sempre, o que não pressagia nada de bom em termos da abstenção.
Na boca dos candidatos faltaram os projectos e o pensamento estruturado, sobraram as conversas laterais e as questões de carácter; na rua restaram pouco mais do que os militantes dos partidos. As campanhas em que os presidentes da República se apresentam à reeleição têm sido sempre vulgares, como aconteceu com Soares/Basílio Horta ou Jorge Sampaio/Ferreira do Amaral, mas esta abusou pela negativa.
2. As culpas podem ser repartidas. Cavaco Silva não apresentou uma ideia nova. Limitou-se a agitar a sua inocência em relação ao estado em que o País se encontra, a reclamar honestidade pessoal e a prometer, às segundas, quartas e sextas, acabar com o Governo, e às terças e quintas, face às reacções, a dizer que não era bem assim. Pelo meio, abusou da inteligência dos portugueses (exemplo: a forma como diz que gere as suas poupanças). Cavaco não se comprometeu com o que quer que seja, a não ser com a inevitável Constituição, e sai desta campanha como nela entrou e tal como desempenhou o cargo nos últimos anos, cumprindo os mínimos. Não promete nem se compromete.
Manuel Alegre pagou o preço de se ter deixado integrar no sistema. Entre o PS e o Bloco de Esquerda perdeu autenticidade e, segundo as sondagens, parece não ter ganho votos em relação a 2006. É um homem generoso em termos do ideal de sociedade que pretende, mas a política também deve ter sentido e coerência na acção.
Fernando Nobre trouxe solidariedade para dar e vender, mas acabou esgotado e fora de controlo: a afirmação de que só desistiria se lhe dessem "um tiro na cabeça" é o exemplo acabado de desnorte e de inépcia política.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
21/01/11

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