17/12/2010

PAULA FERREIRA






A professora que queria ensinar
                                     os alunos a ler



Boas notícias, finalmente! Os alunos portugueses estão, pela primeira vez, perto da média dos alunos que participam no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). O PISA testa o conhecimento de estudantes de 15 anos, independentemente do grau de ensino que frequentam, nas áreas de leitura, Matemática e Ciências. Portugal fica ao nível dos Estados Unidos, Suécia, Alemanha, Irlanda, França, Dinamarca, Reino Unido, Hungria e Taipé.


Boas notícias, portanto. O que soa estranho é a grandeza do salto. A que se deve tamanha evolução?


Ainda há pouco tempo, sensivelmente um ano, numa reunião de pais, com a direcção de turma, em que estive presente, participou a professora de Português. E veio ali pelo seguinte: pedia aos encarregados de educação de uma turma do 10.º ano autorização, por assim dizer, para deixar para trás por algumas aulas o programa curricular. Inesperado pedido, mas que se compreende bem. Em vez das aulas curriculares, a docente pretendia ajudar os alunos a ler! Os jovens, acabadinhos de fazer exame do 9.º ano a Língua Portuguesa, com sucesso, não sabiam ler. Era essa, pelo menos, a percepção dos professores que lhes davam aulas. Liam, mas não percebiam o que liam. Isto aconteceu há pouco tempo, no mesmo país que agora exibe os excelentes resultados no PISA. Seria um problema localizado naquela escola? Pouco provável. É certo que o contexto socioeconómico é importante, mas não chega.


As boas notícias não podiam vir em melhor altura. O Governo, como era de esperar, explorou a evolução dos resultados, levando o primeiro-ministro a prever um aumento da produtividade em Portugal. É uma leitura lógica. Se as competências dos cidadãos melhorarem, a competitividade da economia talvez acompanhe essa evolução.


Enquanto não chegamos lá, parece que existem outros meios para atingir melhores níveis de competitividade. Recentemente, numa reunião extraordinária de ministros das Finanças da União Europeia, Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos, anunciava: Portugal vai fazer uma reforma das leis laborais. Em Portugal, o primeiro-ministro, José Sócrates, admite a reforma, sem avançar pormenores. Mais informações para os próximos dias, diz. Se Bruxelas já sabe o que vai acontecer aos trabalhadores portugueses, seria bom que os portugueses também soubessem...

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
08/12/10

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